Ecos da ausência: uma exploração da mitologia em "O Retorno"(2/2)

A mitologia e a religião fazem parte de muitas culturas e sociedades, e a incorporação desses elementos pode fornecer um vasto contexto cultural para vincular os filmes a tradições e narrativas mais amplas. Também pode servir como uma forma de explorar o contexto histórico de um determinado enredo ou cenário. Os cineastas podem optar por incorporar elementos mitológicos ou religiosos para ter um impacto visual e narrativo. Esses elementos podem fornecer imagens deslumbrantes, criar uma sensação de admiração e contribuir para a atmosfera geral dos filmes.

"Chamado à aventura": o Velho Sábio, o Trickster, o Inocente e o Rebelde

A relação entre pai e filhos também pode ser vista pelas lentes da Jornada do Herói, um padrão mitológico predominante. O retorno do pai funciona como um "chamado à aventura" para Ivan e Andrei, levando-os a um mundo de provações e autodescoberta. À medida que enfrentam os desafios apresentados pelo pai, eles passam por um amadurecimento pessoal, aprendem lições valiosas e adquirem novos insights sobre si mesmos e seu lugar no mundo.

Além disso, essa dinâmica pai-filhos explora temas universais de conflito geracional e a busca por identidade. A ausência da figura paterna durante os anos de formação dos filhos deixou um vazio que precisa ser preenchido. Seus encontros e interações com o pai tornam-se uma busca pela compreensão de suas origens, fazendo com que eles lidem com questões de linhagem, legado e as complexidades da paternidade.

A relação entre pai e filhos em "O Retorno" pode ser analisada através de uma perspectiva mitológica, que revela padrões arquetípicos, simbolismos e experiências humanas universais. Ao investigar a interação entre os arquétipos do Velho Sábio, do Trickster, do Inocente e do Rebelde, observamos as complexidades das jornadas dos personagens, suas buscas por autodescoberta e a reconciliação de emoções conflitantes dentro da dinâmica pai-filho.

Partindo de uma perspectiva religiosa, "O Retorno" pode ser analisado através de várias lentes, como redenção, fé e ausência divina. Embora o filme não explore explicitamente nenhuma tradição religiosa específica, ele levanta questões e temas que ecoam narrativas espirituais e religiosas.

Uma metáfora

A ausência e o súbito retorno da figura paterna podem ser vistos como uma metáfora da presença e ausência de uma figura divina nas tradições religiosas. A volta do pai atrapalha a vida dos irmãos e reflete a ideia de uma intervenção divina que desafia e transforma os indivíduos. Esse tema da presença divina inesperada geralmente ocorre em textos e histórias religiosas, em que uma divindade ou figura espiritual aparece para guiar, testar ou ensinar os protagonistas.

Uma peregrinação

A jornada de Ivan e Andrei pode ser vista como uma peregrinação, que é um tema religioso comum. Nas narrativas de peregrinação, os indivíduos embarcam em uma jornada física ou metafórica para buscar inspiração, redenção ou uma conexão mais profunda com o divino. Ao longo do filme, os irmãos encontram provações, tanto externas quanto internas, que se assemelham aos desafios enfrentados pelos peregrinos em suas buscas espirituais.

A paisagem e os elementos naturais retratados no filme também podem evocar uma sensação de sagrado. A vasta, porém inspiradora imensidão pode ser interpretada como uma representação metafórica do reino divino ou do transcendente. A beleza serena da natureza, justaposta às dificuldades e provações que os personagens enfrentam, reflete a ideia de encontrar espiritualidade ou uma conexão com o divino em meio às lutas da vida.

Simbolismos:

A paisagem e os elementos naturais retratados no filme também contribuem para seus tons mitológicos. A vasta e desoladora imensidão simboliza o espaço liminar entre o mundano e o reino do extraordinário. Serve como um limiar metafórico que os irmãos devem atravessar para embarcar em sua jornada transformadora, além de refletir o conceito arquetípico do limiar do herói ou a mítica "estrada das provações".

Ao longo do filme, simbolismos como a água, o fogo e a cor vermelha se repetem, o que acrescenta camadas de significado à narrativa. A água representa o subconsciente e as profundezas da psique humana, além de refletir os conflitos internos e as turbulências emocionais vividas pelos personagens. O fogo simboliza tanto a destruição quanto a purificação, bem como significa o poder transformador da jornada dos irmãos. A cor vermelha, frequentemente associada à paixão e intensidade, ressalta os estados emocionais dos personagens e prenuncia a possibilidade de catarse e renascimento.

Uma perspectiva mitológica de "O Retorno" revela diversas figuras arquetípicas, simbolismos e jornadas transformadoras. O filme explora temas de autodescoberta, reconciliação e busca de significado, tudo dentro da estrutura de uma narrativa mitológica. Ao analisar a história e os personagens pelas lentes da mitologia, compreendemos, de maneira mais ampla, a profundidade simbólica do filme e suas associações com temas universais da existência humana.

Além disso, o filme aborda temas de fé e confiança diante da incerteza. A confiança inocente e inabalável de Ivan no pai, apesar de sua natureza misteriosa, pode ser vista como uma forma de fé. Isso ressoa com narrativas religiosas que enfatizam a importância da fé como força que orienta a exploração pelo desconhecido.

Por fim, embora "O Retorno" possa não explorar explicitamente a religião ou aderir a uma tradição religiosa específica, levanta temas e questões que se assemelham às narrativas religiosas e espirituais. O filme convida os espectadores a contemplar a natureza do divino, a busca por significado e o poder transformador da fé e da redenção.

Los ecos de la ausencia: Exploración mitológica de El Regreso (1/2)