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"O Problema dos Três Corpos": a Netflix exagerou nas mudanças dessa obra-prima da ficção científica!

"Todos deveriam ler o livro para apreciar sua profundidade, beleza e multidimensionalidade e ter uma noção do quanto o autor conseguiu ser criativo."

Depois que a Netflix divulgou o trailer mais recente de "O Problema dos 3 Corpos", esse comentário no YouTube surgiu como um dos mais curtidos entre inúmeros elogios como "O melhor livro de ficção científica que eu já li", "Fico feliz que essa trilogia esteja recebendo o hype que merece", entre outros…

Escrito pelo romancista chinês Liu Cixin, a trilogia "Três Corpos" é um épico de ficção científica que abrange várias épocas e espaços. Ela gira em torno da guerra entre a civilização humana na Terra e a civilização dos Três Corpos, investigando questões profundas sobre a civilização humana, tecnologia e moralidade.

"O Problema dos Três Corpos", conhecido internacionalmente, foi homenageado com o prêmio Hugo, que é o maior prêmio possível para uma obra de ficção científica. Também foi recomendado por Obama e Zuckerberg, ganhando mais atenção e popularidade depois disso.

No entanto, ao notar que a legenda "Dos criadores de Game of Thrones" precede a legenda "Baseada nos romances mais vendidos do mundos", percebi que provavelmente haveria mudanças significativas na série. Afinal, os roteiros foram elaborados por outras pessoas, não pelo autor do romance.

Como fã do livro, notei muitas diferenças em relação à obra original no trailer, que vão desde mudanças de personagem até alterações no enredo. Vamos dar uma olhada nelas!

Mais personagens

A maior mudança é que o número de protagonistas passou de um para cinco.

Cada um deles é uma mistura de certos elementos do protagonista original, Wang Miao, e de algum outro personagem. Eles estudavam na mesma universidade, como retratam os roteiristas, e agora formam uma equipe para abordar uma série de acontecimentos misteriosos. Vamos conferir uma lista desses personagens e com quem eles se parecem com base no livro.

  • Jin Cheng (Wang Miao e Cheng Xin): interpretada por Jess Hong, ela é uma física teórica genial que tem uma curiosidade insaciável sobre os mistérios do universo.

  • Saul Durand (Wang Miao e Ding Yi): interpretado por Jovan Adepo, ele é um assistente de pesquisa em física, excepcionalmente talentoso, mas não concentrado o suficiente para atingir todo o seu potencial.

  • Auggie Salazar (Wang Miao): interpretada por Eiza González, ela é uma pioneira em nanotecnologia, com foco na resolução de problemas práticos e não teóricos.

  • Jack Rooney (Wang Miao): interpretado por John Bradley, ele é ousado, direto e possui grandes talentos em física.

  • Will Downing (Wang Miao): interpretado por Alex Sharp, ele é um professor de física cuja vida passa por uma transformação após receber uma mensagem misteriosa.

Não consigo entender por que eles transformaram um personagem principal em cinco. Talvez seja por uma questão de diversidade e representatividade?

Além do protagonista, outros papéis também sofreram mudanças significativas. Por exemplo, o líder da equipe de cinco pessoas na versão da Netflix, que é originalmente chinês, é adaptado para um diretor de uma agência de inteligência chamado Veed, interpretado por Liam Cunningham. O mesmo acontece com o impressionante policial "Da Shi" do romance original, interpretado por Benedict Wong na adaptação da Netflix.

Da ficção científica "hard" à ficção científica "soft"

O misterioso assassinato de cientistas, a contagem regressiva nos olhos, o universo cintilante…tudo o que é marcante pode ser visto no trailer grandioso e bem produzido. Contudo, eu sinto que de alguma forma eles diminuíram o senso de mistério do original baseado na ficção científica. Esses efeitos visuais fazem com que a adaptação da Netflix se incline mais para a ficção científica "soft".

"Hard" e "soft" são dois estilos distintos de ficção científica, com diferenças notáveis em sua abordagem aos elementos científicos e detalhes técnicos. O primeiro tenta apresentar um futuro realista alinhado com princípios científicos conhecidos. Aprofunda-se em detalhes técnicos, visando transmitir o rigor e as possibilidades da ciência.

Por outro lado, a ficção científica "soft" está mais centrada na criatividade e na imaginação, muitas vezes baseando-se em princípios científicos ficcionais e sendo menos restringida pelas leis físicas do mundo real. Ela prioriza as emoções dos personagens, as questões sociais e as reflexões filosóficas.

Na adaptação da Netflix, por exemplo, a misteriosa contagem regressiva vista pelos olhos de Auggie Salazar é formada pelo movimento de partículas em alta velocidade, que supostamente era para ser simples. Entretanto, na versão Netflix, parece complexa, lembrando um protetor de tela com efeitos semelhantes aos do Photoshop. Outro exemplo é o universo cintilante, visível a olho nu no trailer. Na obra original, esse fenômeno resulta da influência do vento solar e dos campos magnéticos planetários sobre os fótons, causando desvios sutis e interferências na propagação da luz. Em outras palavras, no livro, são necessários instrumentos especializados para observar esse fenômeno.

Eu entendo essas mudanças visuais dos criadores; eles mostram cenas mais espetaculares para estimular o interesse do público. Porém, a introdução da imaginação mina o rigor da obra original. Logo no trailer, senti um uso excessivo da imaginação visual. Espero que a série completa contenha menos desses efeitos especiais porque, para mim, as cenas complexas de ficção científica baseadas no bom senso são o que tornam o livro tão interessante.

Minhas considerações

Acho que a adaptação da Netflix poderia ter sido mais marcante se conseguisse estabelecer um novo enredo sobre a base do original. Seria uma história dentro do universo "Três Corpos", sem relação com os personagens chineses, mas habilmente integrada à trama. Essa subtrama poderia ser potencialmente explorada através da perspectiva de Veed, verificando o mundo através de seus olhos e narrando sua história de vida.

Ou talvez pudesse haver uma interpretação ousada que contrastasse fortemente com as ideias comunistas de Liu Cixin, projetando uma perspectiva ocidental sobre esse universo desafiador e estranho. Tais colisões podem desencadear faíscas ideológicas e provocar contemplação de diferentes ângulos.

É evidente que "os criadores de Game of Thrones" não se aventuraram nessas tentativas mais ousadas, optando por modificações significativas na história original, o que reduziu significativamente as minhas expectativas para a série.

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