Resolvi dar uma chance para este filme de Hirokazu Koreeda e fui mergulhando lentamente na história. Aos poucos, a câmera do cineasta, com consistente precisão e calma, me guiou por dentro de um mundo esquecido e até mesmo desconhecido.
"Ninguém Pode Saber" conta uma tragédia desencadeada pelo abandono de menores incapazes. A principal culpada foi a mãe, uma mulher cujo rosto já apresentava sinais de envelhecimento. Embora ela tivesse experimentado a amargura e o absurdo da vida, não amadureceu psicologicamente. Como se estivesse "brincando de casinha", ela teve quatro filhos com diferentes pais. Sua postura perante a vida era muito alegre, então tudo parecia irreal. Ela não pretendia, nem jamais pretenderia, suportar o peso da realidade da vida como adulta. Assim, o vínculo que une uma família foi quebrado. Devido à inversão de papéis entre protetor e protegido, as crianças estavam destinadas a ser lançadas na sociedade para se defenderem sozinhas.
Mas a mãe também era uma pessoa abandonada. Sua partida foi apenas uma imitação dos repetidos namoros fracassados. Como as promessas nunca foram cumpridas, ela tentou desaparecer. No mundo dela, a própria vida sempre esteve na lama, então ela já não se importava mais com a sujeira. "De qualquer forma, não vamos morrer. De alguma forma, vamos sobreviver.". Talvez essa frase seja a mais honesta que ela disse aos filhos.

"Eu não tenho o direito de ser feliz?". Quando ela perguntou isso ao filho mais novo com uma voz cheia de mágoa, ela já havia decidido, sem hesitação, acabar com o próprio exílio. E assim começou o exílio dos filhos.
Após essa decisão, as quatro crianças foram abandonadas. Mesmo no meio de uma multidão, com pessoas indo e vindo, elas ainda se sentiam sozinhas, pois eram ignoradas.
Esse exílio já havia começado até antes da partida da mãe, talvez desde o momento em que nasceram. A mala escura; a escada deserta; o brinquedo caído na varanda que ninguém se atreveu a pegar; a saudade da escola; tudo isso aprisionava as crianças. A prisão do corpo é o exílio do espírito. Felizmente, elas ainda não estavam em uma idade de sofrimento constante, com exceção das duas crianças um pouco mais velhas.
A duração do filme flui de uma maneira muito suave e compacta, quase sem pausa. Depois que o menino desligou o telefone na cara da mãe, fiquei curioso para observar a expressão dele ou qualquer outra linguagem corporal possível que pudesse revelar seus sentimentos. Mas o diretor não forneceu nenhum close-up, deixando passar facilmente a oportunidade de desenvolver essas emoções. Acho que ele estava tentando manter o filme o mais tranquilo possível. Ele nos diz através do tempo ininterrupto que a vida é assim e não vai desacelerar por causa da tristeza.

Mas notei duas vezes em que o tempo foi exageradamente desacelerado ou até mesmo parado. Uma delas foi quando o irmão mais velho levou a irmã para conhecer a mãe e viu um trem passando no caminho de volta. Depois que ele disse: "No futuro, com certeza levarei minha irmã de trem para ver aviões.", e apenas o rosto do irmão mais velho e a longa luz do trem permaneceram no enquadramento. A luz parecia vir de várias direções e iluminava o rosto do menino repetidas vezes. Esse foi o momento em que os sonhos existiam. Naquele momento, embora os filhos estivessem sozinhos e sentissem a distância da mãe, ainda esperavam seu retorno. A família ainda não havia se desintegrado, então a vida ainda era capaz de gerar um lindo sonho. Esse sonho permanecia no coração dele, aliviando suas dificuldades. Determinado a realizá-lo, o tempo desacelerou quando o menino ansiava por ele. O trem veio de longe várias vezes, representando luz e esperança na escuridão da noite.
O outro momento foi quando o irmão mais velho correu descontroladamente pela rua. Depois de recusar dinheiro de amigos, ele correu pela rua pela primeira vez como adulto — embora já vivesse como adulto há muito tempo. Foi aí que os sonhos colidiram de frente com a realidade. O resultado foi que, dessa vez, o sonho se desfez. A rua estava movimentada, mas o som de passos correndo era nítido em meio aos vários ruídos. Esses sons pareciam perturbá-lo e a corrida parecia não ter fim.

O filme também carece de trilha sonora, como a vida sem música. Mas sempre que ela aparece, é alegre. A primeira canção aparece quando as crianças saem juntas pela primeira vez na vida. A mãe deles já tinha ido embora, mas as crianças desfrutaram de um alívio e uma alegria sem precedentes quando saíram de casa. Antes ou depois desse momento, o brilho da vitalidade nunca foi tão deslumbrante e vigoroso.
Hirokazu Koreeda também é mestre em usar detalhes para mostrar a passagem do tempo. Sem quaisquer palavras, apenas alguns fenômenos objetivos que mudam silenciosamente nos lembram que o tempo está passando. Por exemplo, cabelos despenteados, giz gasto, esmalte descascado, piano danificado e roupas sujas. O tempo passa dessa maneira e também indica o rumo da história: o relacionamento entre irmãos, antes inocente e agora em crise, e a família frágil à beira do colapso. Esses detalhes silenciosos são como feitiços, tornando a inocência mais dolorosa e a felicidade passageira. Mas diante dessas profecias sinistras, a câmera do diretor permanece calma. Ele transforma essa dor e os suspiros em fios imperceptíveis, entrelaçando lentamente o coração do público.
As crianças pegaram um punhado de sementes na beira da estrada, e essas sementes eram elas mesmas. Elas poderiam ter murchado na rua, onde ninguém se importava, mas lutaram instintivamente para sobreviver, independentemente das probabilidades e de quando se tornariam parte do solo.
Hirokazu Koreeda embelezou a realidade mais cruel dessa história real. Na verdade, esse mundo murchou cedo de uma forma feia e decadente: o filho mais velho não conseguiu resistir à tentação do mal, matou uma das irmãs com as próprias mãos e, consequentemente, foi enviado para um centro de assistência social.

No entanto, agradeço ao diretor. Ele colocou vitalidade na feia realidade. É uma vitalidade fraca, porém teimosa. Ele injetou vida e esperança sempre fluidas. Sem essa vitalidade, "Ninguém Pode Saber" se tornaria mais um "Laranja Mecânica". Não haveria beleza, nem emoção, nem esperança, apenas feiura, nojo e desespero. Essas são duas maneiras diferentes de expor a feiura: uma é tocar as pessoas com a beleza danificada e a outra é chicotear os corações das pessoas com o mal. Não há superioridade entre as duas, mas prefiro a primeira.
O final do filme personifica melhor a filosofia do diretor. A silhueta da luz de fundo na grama e os fios de cabelo levemente esvoaçantes: uma bela imagem. Mas essa bela imagem transmite uma dor impotente. Eu já não via mais a criança com um olhar cheio de força e maturidade; agora, ele só tinha frieza e desespero em seus olhos, como um animalzinho indefeso. A irmã, como uma flor que nasce no concreto, foi enterrada no solo escuro. E as outras crianças? A canção nos disse: o céu está escuro, e o lago também.
Existe uma espécie de amadurecimento na morte. Mesmo que o diretor espere que a vida humilde se misture com a vida emergente, dilua sua amargura com intermináveis anos comuns e refine sua tenacidade, também sabemos que o mundo não é tão misericordioso.




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