Quem são os Fremen da vida real?

Duna: Parte 2 me surpreendeu positivamente. Não vou mentir, achei o primeiro filme denso e confuso, mas estava ansiosa para assistir à segunda parte. Felizmente, apesar do quanto foi doloroso (minhas costas começaram a doer no meio da exibição), houve muito mais ação e desenvolvimento que fizeram o filme parecer real, em vez de apenas um despejo de informações fantasiosas.

O melhor de tudo, porém, foi conhecer melhor os Fremen. Eu sinto que raramente vemos filmes que abordam, e muito menos focam, nas religiões dos personagens, então o filme não foi apenas inovador, mas também muito instigante. Mais importante ainda…acho que os conheço. Acho que já conheci os "Fremen" da vida real antes...

Já mencionei isso em alguns dos meus artigos anteriores, mas vale a pena mencionar novamente que morei no Marrocos por um tempo. É por isso que, quando vi as tatuagens dos Fremen, elas me pareceram estranhamente familiares: não são as mesmas dos Imazighen?

Mal sabia eu que esse simples pensamento me levaria a uma espiral interminável de pesquisas no Google.

Para quem não sabe quem são os Imazighen, são os habitantes nativos do Norte de África (daí a ligação com o Marrocos). Se o termo Imazighen é novo para você, o termo berbere pode ser mais familiar, embora geralmente seja considerado um tanto ofensivo. Você pode até ter ouvido falar de alguns de seus subgrupos étnicos, como os tuaregues, os rifenhos ou os cabilas. Independentemente de você já ter ouvido falar deles ou não, você deve saber que eles tradicionalmente tatuam o rosto das mulheres por vários motivos, que vão desde saúde e proteção até beleza e identificação tribal — assim como algumas das mulheres Fremen em Duna. Além disso, alguns tuaregues têm a pele manchada de azul devido aos corantes índigo que usam — semelhante à forma como os Fremen têm olhos azuis devido às especiarias que consomem.

Mais importante ainda é que Imazighen significa literalmente "pessoas livres". Poderíamos até dizer que significa "homens livres", ou melhor, "Free men", no inglês. Entende onde quero chegar? "Fremen"...

Só que, quando tentei conferir se outras pessoas tinham ou não feito a mesma ligação, as coisas ficaram um pouco menos claras. Algumas pessoas apontaram a possível ligação entre os Imagizhen e os Fremen, mas acontece que Frank Herbert, o autor de Duna, também pode ter sido inspirado pelo povo beduíno…que também usava tatuagens faciais. É claro que isso atrapalha um pouco minha teoria, especialmente porque o novo filme, Duna: Parte 2, parece se inspirar mais nos estilos de tatuagem dos beduínos, tribos nômades da Península Arábica.

Por outro lado, a palavra beduíno não tem qualquer ligação específica com a palavra "Fremen", significando simplesmente "moradores do deserto" ou, segundo meu noivo marroquino, "pessoas do interior".

Então, DE NOVO, aparentemente nos livros da série "Duna", os Fremen afirmam ser de "Misr", a palavra árabe para o Egito, onde existem os grupos beduínos e os Imazighen. Além disso, há o fato de que Herbert possivelmente se inspirou em um livro chamado "The Sabres of Paradise", que é baseado em uma revolta islâmica no sul da Rússia. Melhor ainda, o Kwisatz Haderach é baseado em um conceito judaico. E “Arrakis” não se parece com o “Iraque”?

Talvez seja hora de dar um passo atrás, porque tudo até agora é, na melhor das hipóteses, inconclusivo. Pelo que eu sei, não há menção a tatuagens faciais nos livros da série "Duna" (NÃO, eu não me odeio a ponto de ler os livros), então vamos ignorar isso. A ligação entre o índigo e os "homens livres" é mais plausível, mas ainda bastante tênue. Quanto aos Fremen que afirmam ser de Misr nos livros, bom, quantos de nós sabemos precisamente onde estavam nossos ancestrais há 20.000 anos?

Pelo que posso dizer, os fatos mais importantes sobre os Fremen são os seguintes:

1. Eles falam uma língua baseada principalmente no árabe, com algumas outras influências linguísticas.
2. Eles têm uma ligação com o Islã Sunita, seguindo a Zensunni (em contraste com a Zenxiita ou a Zensufi que são coisas reais nos livros — gostaria de estar brincando) e aguardando a chegada do messias al-Mahdi, uma figura importante até mesmo no Islã atual.
3. Os Fremen têm um texto religioso chamado Kitab al-Ibar, provavelmente uma referência à enciclopédia histórica de Ibn Khaldun com o mesmo nome, que aborda uma história universal (muitas vezes considerada como tendo influenciado Herbert com suas teorias sobre como "sociedades estagnadas" podem ser derrubadas por tribos pequenas e unidas), uma história mundial e uma história mais específica dos Imazighen no Norte da África.

Embora possa haver mais evidências nos livros, ainda me recuso a lê-los, e minha conclusão final é: Frank Herbert não sabia o que estava fazendo. Ele provavelmente conhecia todas as culturas que mencionei neste artigo e foi inspirado por todas elas, resultando em um amálgama vagamente islâmico que pode ser rastreado até muitas fontes sem ser inteiramente inspirado por nenhuma.

Não estou dizendo que isso não cria uma cultura de fantasia interessante ou algo assim — estou meio obcecada. Parece fetichista em relação às culturas islâmicas, a ponto de ser limítrofe, se não totalmente, orientalista (o que é considerado nada legal). Sem dúvida, é ainda pior adicionar tatuagens no rosto, já que elas estão em grande parte desaparecendo nos grupos dos Imazighen e dos beduínos, pois são consideradas haram (proibidas) no Islã. Mas quem se importa com as realidades culturais quando a estética é legal (contém ironia)?

De qualquer forma, peço desculpas, pois meu título era uma pegadinha. Realmente não parece haver uma resposta sólida sobre quem são os Fremen da vida real, mas espero que isso possa servir como ponto de partida se você quiser conhecer as muitas culturas interessantes que os inspiraram. Só não seja tão estranho quanto Herbert.