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Donzela: um conto de fadas que merecíamos há muito tempo

Spoilers

Assim como outras garotas da geração Z, minhas histórias da hora de dormir durante a infância foram contos de fadas clássicos como Cinderela, Branca de Neve, A Pequena Sereia, A Bela e a Fera etc. Claro, eles eram cativantes e instigavam a imaginação de jovens garotas, mas também nos deixaram sérios estereótipos de princesas dos quais temos tentado nos livrar desde então. É por isso que estou entusiasmada com o número crescente de contos de fadas recontados que estão surgindo, com um esforço consciente para romper com estereótipos sobre as mulheres e abordar suas verdadeiras realidades.

E Donzela é um desses trabalhos.

Princesas, príncipes, dragões...

Bum! História instantânea. Essas três palavras-chaves são o suficiente para conjurar uma história familiar na mente de todo mundo. E eu aposto que existem apenas duas versões: ou o príncipe surge para salvar a princesa do dragão ou o dragão é, na verdade, um príncipe amaldiçoado que precisa de um beijo do amor verdadeiro (veja A Bela e a Fera).

O dragão foi derrotado, a princesa retornou.
Sim, Bob Esponja e Patrick sabem de tudo…

E a Donzela então? A combinação das três palavras-chaves é diferente. O príncipe engana a princesa, oferecendo-a como sacrifício ao dragão. Quando a princesa percebe que tanto ela quanto o dragão são vítimas, ela se une ao dragão para se vingar do príncipe e de sua família. Esse, de acordo com o diretor Juan Carlos Fresnadillo, foi o maior desafio: “contar uma história que todos acham que já conhecem de uma maneira que pareça ter um significado”.

Agora você sabe que Donzela não é um conto de fadas típico. Mas como exatamente? Em primeiro lugar, nossa princesa Elodie não é a donzela passiva em perigo esperando pelo herói. Enquanto Cinderela espera pelo príncipe, a Branca de Neve e a Bela Adormecida esperam pelos beijos que a despertarão, e a Bela e a Ariel, embora fortes, por fim assumam papéis de sacrifício, Elodie assume o controle, salvando a si mesma e virando toda a alegoria da donzela de cabeça para baixo.

Isso não é novo. Uma personagem feminina sem arbítrio hoje em dia teria sofrido uma reação imediata. Mais revigorantes são as mudanças do príncipe, do dragão e da madrasta da princesa. O príncipe não é apenas um cara charmoso – ele é um mentiroso que vai jogar você de um penhasco se for conveniente para ele. O dragão? Não é mau por natureza, apenas busca vingança por conta de um sério drama familiar causado pelos ancestrais do príncipe (eles mataram as três e únicas filhas do dragão, Como vingança, o dragão exigiu três sacrifícios de cada rei sucessor). E a madrasta da princesa? Ela não inventa nenhum esquema perverso para trocar a vida da princesa por riqueza, mas em vez disso a aconselha a ter cuidado com o casamento. É seu pai que está cego pela ganância por poder e benefícios, embora no final perceba seus defeitos.

A mãe do príncipe pode parecer a madrasta malvada padrão, mas há mais coisas sobre ela do que imaginamos. Imagine se Elodie não fosse uma das três princesas do sacrifício, mas uma quarta sortuda, ela provavelmente acabaria como a mãe do príncipe, herdando todos esses antigos valores e mantendo o patriarcado vivo e forte. Então sim, ela não é apenas uma vilã unidimensional; ela é outro possível reflexo de Elodie, alertando-nos sobre outra armadilha feita para mulheres.

Princesa Elodie interpretada por Millie Bobby Brown

Contos de fadas são fofos e inocentes quando somos crianças, mas quando crescemos, começamos a ver as camadas mais profundas. Aquelas velhas histórias de princesas? Elas nos afetaram, empurrando toda essa coisa de “donzela em perigo” e fizeram o casamento parecer o objetivo final. Nós mergulhamos nessas narrativas por décadas e agora estamos tentando nos livrar dessas ideologias. Tais esforços exigem coragem e determinação. Mas as garotas da nova geração não acreditam mais nisso. Agora temos Donzela – ela indica diretamente: “Ei, o casamento não é apenas arco-íris e unicórnios para nós, mulheres. Pode ser uma decepção, exigir o sacrifício de uma mulher pela família e pelos interesses do marido”.

Do ponto de vista cinematográfico, Donzela não é excelente. Está mais para um prazer secreto – simples, talvez até um pouco entediante, mas tem significado. Extrai elementos de velhos materiais familiares, mas os reorganiza para transmitir diretamente o tema feminista. Talvez para a expressão feminista, recontar já seja um passo significativo. Como diz o diretor Fresnadillo: “merecíamos um novo conto de fadas”. Fico feliz que, pelo menos no domínio do cinema, as garotas da nova geração tenham mais opções nas histórias de princesas.

E não vamos nos esquecer da atriz principal, Millie Bobby Brown, que também é produtora-executiva de Donzela. Alcançando a fama como Onze em Stranger Things e aclamada por suas atuações em vários trabalhos, ela foi nomeada uma das 100 pessoas mais influentes pela revista Time em 2018, a mais jovem de todos os tempos da lista. Aos 20 anos de idade, ela já é um ícone para muitas garotas. Acho que ela foi a escolha perfeita para ser a princesa que enfrenta dragões e príncipes.

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