Alien: Romulus — Um grupo de adolescentes brincam de escape room no espaço? Spoilers

Passei a entender, mais do que nunca, como os filmes de terror são amaldiçoados quando não têm som: eles não são nem um pouco assustadores. Assim que Alien: Romulus chegou aos cinemas, corri para assistir. Mas, infelizmente, a sessão que escolhi estava com um problema técnico — o som parecia muito baixo. Mesmo sentado na última fileira, esse não deveria ser o motivo, né? Por fim, não me aguentei e perguntei em voz baixa à menina sentada ao meu lado: “Você acha que o som está baixo?”, ela refletiu e então rapidamente assentiu. Naquele momento, senti alívio, mas também notei como o público pode ser enganado facilmente por problemas técnicos. Certa vez, um amigo teve uma discussão acalorada com o gerente de um cinema porque eles haviam errado a proporção de um filme, e ele não conseguiu convencê-lo de que estavam errados.

De qualquer forma, tive que sair do meu lugar duas vezes para avisar a equipe sobre o problema de som, que acabou sendo resolvido depois. Essa interrupção fez com que eu demorasse um tempo para entrar no clima de Alien: Romulus. Mas não estou dizendo isso para dar desculpas em nome do filme. A verdade é que ele não é tão bom.

Ao assistir Alien: Romulus, você obtém uma fórmula semelhante à do clássico de 1979 que aterrorizou a todos nós, especialmente porque esse filme se passa entre Alien – O 8º Passageiro (1979) e Aliens: O Resgate (1986). A atmosfera retrô é elevada ao máximo: estamos em 2142, Ripley ainda está em seu sono criogênico, e demorará mais 37 anos até ela e o gato Jonesy sejam encontrados por uma equipe de resgate. Mas vamos deixar Ripley de lado por enquanto. Estamos lidando com um novo grupo de jovens colonos espaciais, liderados por uma garota chamada Rain e seu irmão androide Andy. Quando Rain percebe que foi enganada pela Corporação Weyland-Yutani e que não pode se livrar do contrato vitalício de mineração desse planeta sem sol, ela decide se juntar a outro grupo de pessoas para escapar, mas acaba entrando em um pesadelo. Embora este filme mostre algum respeito pelo enredo original que deu início à franquia 45 anos atrás, receio que seja apenas isso.

Assisti-lo é como ver um grupo de adolescente imprudentes se unindo para uma partida de escape room no espaço. Se você já jogou escape room, vai entender o que estou dizendo. Gritar é quase tudo nestes jogos; a lógica, a jogabilidade e a resolução de quebra-cabeças é secundário. Os jogadores são todos amadores, não especialistas. Estão jogando pela emoção, não para dominarem o jogo.

Não são os protagonistas, esse grupo de jovens, iguais? Imprudentes, perdidos, sem saber nada sobre o Xenomorfos ou serem especialistas em biologia. A maioria deles não sabe nem operar uma nave de maneira adequada. São apenas um bando de crianças com um desejo de morte. Cailee Spaeny é boa, está em alta ultimamente, mas ela também parece estar em uma viagem espacial rápida, vagando por aí como uma estranha até seus colegas serem mortos, um a um, pelos Xenomorfos. Só então ela começa a atirar nos alienígenas, desviando-se de seu sangue ácido na gravidade zero, e no confronto final com o Xenomorfo humanoide, ela consegue não ser arremessada da nave graças a um cabo de segurança decente. Se há alguma razão pela qual ela merece ser a última sobrevivente, provavelmente é apenas porque ela se candidatou a um filme da franquia Alien, e essa franquia sempre deixa que a protagonista seja a última sobrevivente.

Sim, não vamos nos esquecer de que a franquia Alien tem um lugar significativo na história do terror principalmente por causa de seu ângulo feminista. Ele evitou a exploração típica desses filmes, em que as mulheres são muitas vezes expostas ou vitimizadas, tornando-se objetos do olhar masculino. Em vez disso, a franquia Alien conta a história de uma mulher sendo mais inteligente e esperta do que os homens; os Xenomorfos são muito mais brutais com os homens do que com as mulheres, fecundando-os e fazendo com que morram horrivelmente ao dar à luz a alienígenas. Se um Xenomorfo eclode de uma mulher, ele a vê como sua mãe. E no final, os sobreviventes são mulheres ou androides. Mas o que temos agora? Uma mãe drenada por um Xenomorfo e um bando de homens que não vivenciaram o horror de serem estuprados, engravidados ou darem à luz antes de morrerem.

Uma partida de escape room — essa é provavelmente a sensação que Alien: Romulus nos passa. Um jogo de uma vez só, construído com base em elementos nostálgicos (uma estação espacial confinada, cápsulas de sono criogênico, abraçadores, gosma preta...) e sustos. Mas assim que a próxima tendência de escape room surgir, esse jogo ficará ultrapassado e será esquecido.

Honestamente, a premissa deste filme é muito mais intrigante do que o jogo de matar alienígenas que se segue. De acordo com o diretor, corroterista e produtor executivo Fede Álvarez:

“É uma história de terceiro mundo. É de onde eu venho. Se você nasceu no terceiro mundo, essa é sua realidade, para o bem ou para o mal, você sempre fará o bem quando crescer... Portanto, a narrativa de jovens nascidos em um lugar que acham que é o lugar errado, onde as coisas parecem estar ruindo ao seu redor e eles só querem sair de lá; eles deveriam olhar para os seus pais e pensar: 'Eu não quero acabar como eles'. Essa é uma realidade bem de terceiro mundo.”

Este filme, de fato, repercutiu entre os jovens fora do mundo ocidental. Se você tem acompanhado a internet chinesa nos últimos dias, os memes de “You swan, he frog” não foram as únicas coisas que chamaram sua atenção. Alien: Romulus quebrou os recordes de bilheteria do (normalmente lento) mercado cinematográfico chinês, e os internautas chineses agora discutem os medos mais profundos que essa premissa desperta.

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