Recentemente, a Netflix lançou Sirena: Sobrevivência na Ilha, um reality de sobrevivência só com mulheres. É a primeira vez que esse conceito é aplicado a um programa estritamente feminino.
O programa convidou 24 competidoras de profissões tradicionalmente dominadas por homens, como bombeiros, policiais e militares. Elas apostaram sua honra profissional e embarcaram em uma competição de sobrevivência em equipe em uma ilha deserta.
Com excelentes performances, o programa subiu para o top 10 do streaming na Coreia em seu segundo dia e manteve uma boa posição desde então.
Olhando apenas para o formato do programa, "Sirena" parece ser uma combinação de "Steel Troops" e "A Batalha dos 100", incorporando elementos da estrutura de competição já conhecidos, mas alcançando um nível de influência e atenção que supera em muito esses dois. O grande destaque é, sem dúvida, o elenco exclusivamente feminino.
Hoje, usando este programa como exemplo, vamos discutir como a escalação impulsiona o avanço de toda a produção.
Um novo retrato de personagens femininas: heroínas bonitas e perigosas
As imagens femininas populares sempre foram uma projeção do eu ideal para as telespectadoras, mudando com o tempo e as perspectivas em evolução.
Então, qual é a projeção ideal das mulheres coreanas hoje?
Podemos ter uma noção disso com algumas personagens de dramas coreanos recentes. Em "A Lição", Song Hye-Kyo planeja meticulosamente, criando uma emocionante história de vingança. Em "Anna", Bae Suzy usa todos os meios necessários para ascender socialmente, até mesmo aproveitando a morte do marido.
A imagem de uma "mulher ideal" mudou de "ingênua e doce" para "bela, forte e implacável".
A criação de conteúdo para programas de variedades naturalmente precisa abraçar essa mudança e moldar uma nova imagem feminina que se alinhe com a estética contemporânea, ajudando as espectadoras a se projetarem na tela.
O sucesso de "Sirena" está na representação de um grupo dessas mulheres.
O slogan visual do programa, "Sedução de Sirena", mostra a essência das participantes – lindas, mas perigosas.
Para conseguir isso, teve como alvo as "mulheres mais fortes" da Coreia, selecionando participantes de seis profissões diferentes: bombeiras, policiais, militares, seguranças, dublês e atletas.
Outro aspecto do programa é que essas profissões costumam ser dominadas por homens. Quando as pessoas pensam nelas, a imagem que normalmente vem à mente é a masculina, ignorando as contribuições feitas pelas mulheres nesses campos.
As policiais expressaram sua frustração com a situação atual, na qual os policiais homens são chamados de "detetive", enquanto as mulheres são simplesmente chamadas de "senhoras". "Eu não sou uma 'senhora', sou uma detetive", dizem elas.
Este é um microcosmo dos desafios enfrentados pelas mulheres coreanas no ambiente de trabalho. Por meio de profissões como essas, "Sirena" vai além de idolatrar a força individual e revela ainda mais o poder oculto das mulheres obscurecido por essas chamadas "profissões dominadas por homens".
Com a mudança na estética feminina e a influência global da Netflix, o programa entrou no top 10 da plataforma em quatro países e regiões fora da Coreia (Hong Kong, Malásia, Cingapura e Vietnã).
Enquanto outros giram em torno do romance e da aparência, "Sirena" sem dúvida alcançou um tremendo sucesso por meio de sua abordagem competitiva diferenciada.
Como moldar mulheres fortes? Ampliando o prestígio profissional.
No programa, 24 mulheres competem em equipes por 7 dias em uma ilha deserta. Cada dia consiste em duas rodadas: uma competição atlética e uma batalha territorial. A equipe que vencer a primeira ganha uma vantagem na segunda, e a que perder sua bandeira na batalha territorial é eliminada.
O espaço vasto e a competição intensa representam desafios significativos para as filmagens. Segundo o produtor, a ilha onde o programa foi filmado ocupa uma área de aproximadamente 30.000 metros quadrados, onde um total de 354 câmeras foram instaladas, com cerca de 200 funcionários e 60 operadores de câmera envolvidos.
Comparado a "Steel Troops" e "A Batalha dos 100", onde os competidores exibem seu físico musculoso, é difícil perceber visualmente a força das participantes de "Sirena".
Para compensar, a produção aproveita o prestígio profissional das competidoras.
As provas são projetadas para se alinhar com suas respectivas profissões, permitindo que as competidoras mostrem suas habilidades únicas e maximizem seus pontos fortes.
Por exemplo, na prova "Proteger a chama", as competidoras são obrigadas a apagar a fogueira das adversárias usando pistolas de água de alta pressão, que é uma especialidade dos bombeiros. A competidora Kim Min ajusta o bico da pistola para o modo de névoa, cobrindo uma grande área para diminuir a temperatura no centro da chama, apagando rapidamente a fogueira da equipe de dublês.
Ron, membro da equipe militar, tem um passado nas forças especiais de reconhecimento. Ela promete a suas companheiras de equipe que vai tentar reunir informações para ajuda-las. Enquanto acompanha suas companheiras até a tenda médica para fazer curativos, ela navega pelos registros médicos e coleta informações sobre o ferimento na cintura da capitã das bombeiras.
Para investigar o mecanismo de abertura da porta escondida na base de madeira, espera pacientemente na selva escura como uma chita à espera de sua presa. Enquanto todos se preocupam com a batalha noturna da base durante uma chuva torrencial, ela fica animada porque as noites chuvosas são as favoritas dos soldados de reconhecimento, pois o barulho pode mascarar os passos e rastros.
Além disso, a "motivação competitiva para defender a honra profissional" acrescenta uma camada de glória e senso de dever ao espetáculo, indo além da pura competição física.
Chen Ya, roteirista, mencionou em uma entrevista que o programa visa apresentar uma "vitória baseada na amizade". "Sirena" é uma batalha em equipe do começo ao fim. As quatro competidoras da equipe de atletas vêm de esportes como Kabaddi, luta livre coreana, escalada e judô, que não são populares na Coreia. Elas esperam mostrar suas vitórias e deixar claro para todos que existe um grupo de atletas lutando pela honra em várias áreas pelo seu país.
Vale ressaltar que em competições amadoras, o prêmio é sempre a maior motivação. Quer sejam os clássicos como "Big Brother" ou "Survivor", ou até mesmo o recente "A Batalha dos 100", grandes prêmios em dinheiro servem como um fator tentador.
Mas "Sirena" substitui o "ganho financeiro" pelo "senso de honra", resolvendo, até certo ponto, um desafio de programas de sobrevivência.
Verdadeiras guerreiras: Vitória e respeito não são contraditórios.
Impulsionadas pela honra profissional, cada competidora demonstra um forte desejo de vencer. As equipes se confrontam, levando as participantes a comentar que “isso é uma guerra de verdade”.
No início, a produção pediu a cada competidora que respondesse quem era a mais forte e a mais fraco entre todas, criando um clima intenso antes da competição.
As policiais afirmam com segurança que os padrões de avaliação da aptidão física das bombeiras são inferiores aos seus e, por isso, deviam ser mais fracas. As equipes duvidam das habilidades das dublês, acreditando que "atuação" e combate real em campo de batalha são diferentes. As seguranças admitem terem participado de filmagens e ressalta que, para impressionar, sempre usam movimentos exagerados e pouco práticos. No entanto, ações reais de matar são sempre sutis.
Na competição, elementos como base, captura de bandeira e totens de equipe são usados para elevar ao extremo a sensação de glória.
A primeira prova é atravessar o poço de lama e recuperar a bandeira do time e, em seguida, levantá-la na arena. Quando uma equipe é eliminada, os membros devem abaixar a bandeira. Da mesma forma, na batalha de defesa da base, as competidoras devem fazer o possível para proteger sua bandeira. Quando capturada pelas adversárias, simboliza a violação de sua posição.
O programa também tem totens exclusivos para cada equipe, com as seguranças representadas por anjos da guarda, as dublês por aranhas e as policiais por águias.
Esses elementos inspiram as competidoras e mostram visivelmente sua ambição de vencer.
Em programas anteriores, para conseguir um prêmio substancial em dinheiro, os competidores costumavam exibir o lado sombrio da natureza humana: traição, decepção e disposição para fazer qualquer coisa, constantemente ultrapassando os limites da moralidade.
Embora essas narrativas intensas e sensacionalistas de reality shows forneçam muito entretenimento, "Sirena" é diferente. As guerreiras demonstram verdadeiro espírito esportivo, onde a vontade de vencer é baseada no respeito às regras e às adversárias.
Jin Minseon, da equipe das bombeiras, afirmou em uma entrevista: "A competição pode ser intensa, mas quando essa intensidade se transforma em emoção, torna-se inadequada para uma partida." Esse espírito é transmitido pelas guerreiras por meio de suas ações e também é sustentado pela atitude da produção.
Há momentos no programa que cruzam a linha. No sétimo episódio, duas competidoras da equipe militar fizeram movimentos ameaçadores para garantir a posição e ganhar tempo para a companheira, mesmo após a eliminação. Em resposta a isso, a produção manteve as regras, declarou a competição suspensa e anunciou publicamente a penalidade: as duas foram banidas da rodada seguinte. Essa é a diferença dos programas de sobrevivência que enfatizam "vencer a qualquer custo".
As competidoras demonstram respeito pelas adversárias durante as batalhas.
A ex-equipe de dublês, considerada a mais fraca por muitas, conquistou o reconhecimento de todas as adversárias por seu espírito resiliente após se engajar nas batalhas.
A equipe de bombeiras, após travar um confronto acirrado com a equipe militar, deixou claro: as soldadas coreanas não são tão simples quanto parecem.
Para ganhar a confiança das aliadas, as competidoras revelavam seus pontos vulneráveis durante as provas em grupo, formando alianças em 3 segundos.
Quando as aliadas da equipe de seguranças estavam à beira da eliminação, elas disseram: "Poderíamos escolher trair, mas sabemos que o significado de uma vitória desonrosa é mínimo. Escolhemos ficar lado a lado até o fim."
Esses detalhes moldam ainda mais o retrato das mulheres no programa: as guerreiras não apenas querem vencer, elas também valorizam a honra. O custo da vitória nunca é quebrar as regras, nem perder o respeito.
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