Crítica com pipoca: Ela é o cara

Spoilers

Oi gente, dou as boas-vindas a minha Crítica com pipoca de "Ela é o cara", uma comédia romântica dirigida por Andy Fickman e estrelada por Amanda Bynes. Neste artigo, vou contar se gostei do filme e se acho que você também pode gostar; também vou discutir como o filme explora a identidade de gênero e a autoconsciência entre os adolescentes.

Eu não diria que este é o filme mais estranho que já assisti, mas com certeza também não é uma obra-prima. A parte do meio tem emoção e entretem, mas não é suficiente para salvar o geral. Na verdade, acredito que se não fosse pelo meio, seria um dos principais candidatos ao infame Prêmio Framboesa de Ouro, já que tanto o começo quanto o final são decepcionantes. Talvez desenvolvimentos de personagems ou reviravoltas pudessem ter sido adicionados para torná-lo mais envolvente e memorável.

Lançado em 2006, "Ela é o cara" recebeu críticas mistas - alguns acharam que era uma piada, com momentos engraçados e ótimas atuações, enquanto outros simplesmente não gostaram de como a trama era previsível.

O filme foi comercializado como "baseado em Noite de Reis de William Shakespeare", Fickman até chegou a dizer que era uma homenagem à peça. Amanda Bynes interpreta Viola, que finge ser seu irmão gêmeo Sebastian para poder jogar no time de futebol. A história segue Viola tentando manter sua identidade real em segredo enquanto lida com todas as coisas estranhas de um romance no ensino médio.

Embora adaptações como essa chamem a atenção para o estudo de Shakespeare, o filme é um mau exemplo para os adolescentes em termos de identidade de gênero e autoconsciência. Osborne, professor de Shakespeare do Colby College, argumenta: "A peça de Shakespeare, mesmo que vagamente adaptada, pode iluminar o trabalho ideológico e as deficiências de um filme adolescente e, mais radicalmente, um filme adolescente pode iluminar comparativamente a peça de Shakespeare".

A protagonista tem uma transformação interna que acaba decepcionando; embora passe uma forte sensação de "Girl Power", deixa isso de lado em nome do amor. Mesmo que sua atitude de trocar de identidade não seja um problema, o fato de se sentir obrigada a fazê-lo por causa do desejo de seu interesse amoroso é preocupante. A cena teria sido mais impactante se a identidade desejada por Viola tivesse sido aceita.

A fala de Duke é problemática porque implicava que se ela escolhesse ir contra a vontade dele, causaria problemas no relacionamento, forçando-a a escolher entre ele e seu eu autêntico. Viola teve a chance de recusar? Depois de tudo que passaram, era esperado que ficassem juntos a qualquer custo, o que acabou roubando seu livre arbítrio. Foi desanimador que, depois de todo o seu trabalho duro e de sua luta para se disfarçar de menino e provar que é boa, isso acabou não dando em nada. Esta mensagem é problemática.

O filme levanta questões interessantes sobre o papel do gênero e a pressão para se adequar às expectativas da sociedade. Em uma cena particularmente preocupante, Viola é forçada a revelar seu corpo para provar seu gênero. Ainda que o diretor não use a nudez para fins de exploração, o fato de Viola ser levada a tal extremo sugere que essa pode ser a única saída para indivíduos em situações semelhantes. Esta é uma mensagem desanimadora para transmitir ao público, especialmente aos jovens que podem estar lutando para encontrar seu lugar no mundo.

Além disso, a divulgação do filme como uma adaptação de Shakespeare é falsa na melhor das hipóteses e um insulto na pior. Embora se inspire na obra, toma liberdades significativas com o material e dificilmente pode ser considerado uma adaptação fiel. Ao comercializá-lo assim, os produtores podem ter enganado espectadores que esperavam uma interpretação mais conservadora, afinal, não é uma paródia, né? Apesar dessas críticas, vale a pena dizer que o filme não deixa de ter seus méritos. As atuações são boas e a edição é suave. Além disso, a exploração de papéis de gênero e expectativas sociais é um tópico importante e oportuno que merece mais aprofundamento.

Fiquei impressionada com a inspiração em Noite de Reis, misturando o conceito de "Girl Power" com um sonho de jogar futebol. Embora tivesse algum espaço para melhorias, ainda é brilhante em certos aspectos. O campo de futebol é um lugar onde o trabalho em equipe não é apenas importante, mas vital, e a representação disso no filme foi comovente, destacando a necessidade de perseverança e determinação para ter sucesso dentro e fora do campo.

Quando Viola se disfarça de jogador, ela enfrenta dois enormes desafios: manter a figura masculina e ganhar o jogo. A parte complicada é que, ao sustentar a figura masculina, ela não consegue se concentrar no jogo, e ao focar no jogo, ela não consegue manter a figura masculina. Em um sentido mais amplo, ela está sob a vigilância tanto de seus companheiros de equipe quanto do público no campo. Conforme se aproxima de ganhar como uma figura masculina, se distancia cada vez mais de sua identidade original. Ao longo do jogo, vemos esse cabo de guerra, que faz Viola se sentir solitária e desamparada por não poder revelar sua verdadeira identidade.

Então, sim, "Ela é o cara" é um filme divertido e descontraído que dá a Noite de Reis um toque moderno. Gosto dele porque tem alguns momentos que me fizeram rir alto. No entanto, também há partes que não foram muito boas e prejudicaram minha experiência geral. Apesar disso, ainda recomendo que você assista porque é um filme único. Espero ver mais filmes com temas semelhantes no futuro, mas com melhor execução.

[1] Osborne, Laurie E. "'Twelfth Night's' Cinematic Adolescents: One Play, One Plot, One Setting, and Three Teen Films." Shakespeare Bulletin 26, no. 2 (2008): 9–36. http://www.jstor.org/stable/26347689.

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