Que horas eu te pego? não é tão engraçado

Spoilers

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Se não fosse por Jennifer Lawrence, eu talvez nem soubesse deste filme.

Jennifer é Maddie, uma motorista de Uber que enfrenta uma crise financeira e precisa de dinheiro para manter a casa que sua mãe lhe deixou. É quando cruza com a proposta tentadora de um casal rico: quem conseguir que seu filho nerd faça sexo antes de ir para a faculdade ganhará um carro. Precisando desesperadamente de um carro novo, Maddie aceita a oferta e começa a encontrar maneiras de entrar em contato com o introvertido garoto de 18 anos, Percy, e o seduzir.

Na minha opinião, como uma comédia sexual, Que horas eu te pego? é engraçado o suficiente. Por ter um roteiro pesado e cuidadoso, as piadas parecem superficiais. Por exemplo, na primeira metade, parece que um homem adulto está constantemente se aproximando de uma formanda do ensino médio, mas este homem é, na verdade, uma mulher, e a jovem é um menino introvertido.

Essa inversão de gêneros tem um efeito, que é tornar engraçada uma trama meio assustadora. Imagine se Maddie fosse um homem mais velho, mais forte e mais experiente que, por motivos egoístas, tentasse seduzir uma mulher jovem, frágil e inexperiente. Em vez de um romance, seria um filme de terror.

Em Que horas eu te pego?, a inversão enfraquece a dinâmica de poder desigual em termos de habilidade sexual. Enquanto Maddie é mais velha e mais experiente, está com dificuldade financeira; do outro lado, Percy, que é mais jovem e introvertido, vem de uma família de classe média alta e tem vantagens óbvias. Além disso, como homem, também tem uma capacidade potencialmente maior de violência. No filme, depois de descobrir a verdade, ele destruiu o carro que seus pais deram a Maddie como pagamento. Esse tipo de igualdade de poder permite que o público se sinta seguro enquanto assiste, porque sabemos que não importa o quanto Maddie tente, Percy não será prejudicado de verdade.

A maior parte do humor da primeira metade é gerada por Maddie. Ela repetidamente tenta seduzir Percy, mas falha, fazendo-se parecer sedenta e desajeitada. Isso culmina em uma cena estranha na praia, onde Maddie quer nadar nua com Percy, mas suas roupas são roubadas e ela tem que recuperá-las. Além disso, há uma cena em que ela é atacada em seu órgão genital, algo comum em filmes com homens nesse papel. Não sei se a cena em que Lawrence está totalmente nua é essencial, mas é evidente que o humor é derivado do constrangimento de Maddie, e não de sua inteligência.

Além disso, esse tipo de humor é passageiro. Na segunda metade, Maddie e Percy começam a se entender e revelam seus pensamentos mais íntimos. Não apenas vemos que Maddie não é uma ameaça, mas também observamos sua vulnerabilidade. Embora tenha herdado a casa da mãe, não consegue pagar as contas da propriedade, e o único trabalho que consegue é de bartender. Ela teve muitos parceiros sexuais, mas não são indivíduos bem-sucedidos, e, sim, pessoas que conheceu casualmente em bares. Além disso, costuma tratar o sexo como uma transação financeira ou um alívio da solidão. Essencialmente, é difícil argumentar que este é um retrato bem-sucedido de uma personagem feminina, e a razão pela qual Maddie se comporta dessa maneira continua sendo o cenário que Hollywood mais usa para moldar essas personagens: problemas com o pai. Parece que a falta de amor paterno é a característica fundamental de todas as mulheres fracassadas, uma lei eterna - se não tivesse sido abandonada, não teria buscado conforto e afirmação de homens estranhos.

O conceito de Daddy Issues está enraizado em uma dinâmica familiar centrada na figura paterna. O desenvolvimento de personagens em Hollywood geralmente gira em torno da família e da genética, com os pais de uma pessoa determinando suas características e sua infância moldando sua vida. Um pai ruim se torna a fonte dos destinos dolorosos de muitas personagens e a causa de vários problemas psicológicos, e esses problemas geralmente são resolvidos por meio da intervenção de outro personagem masculino. Em Que horas eu te pego?, Maddie não ensinou Percy a gostar de sexo; em vez disso, Percy a ajudou a deixar o passado para trás e ganhar uma nova perspectiva sobre si mesma, levando a uma mudança positiva em sua vida.

Essa ênfase nos problemas com o pai e no caminho para resolvê-los reflete a cultura patriarcal e pode parecer clichê. Embora o roteiro tenha tentado dar ao filme um toque feminista no retrato das mulheres, foi insuficiente e superficial.

No final, a protagonista vendeu sua casa por um preço baixo para sua melhor amiga grávida e o marido, o que os ajudou a começar uma nova família. Apesar de não desenvolver um relacionamento com Percy, eles se tornaram amigos. Com ele indo para a faculdade, Maddie decide deixar sua cidade natal e começar uma nova vida na cidade grande.

Embora o filme não retratasse seus interesses ou talentos, o público fica imaginando o que ela fará lá. Talvez continue dirigindo para o Uber, ou conheça novas pessoas e busque um novo relacionamento. Mas o mais provável é que sua vida não mude significativamente.

O final lembra a estranha oferta que o iniciou - ambos são compromissos com a realidade dura. O filme aborda levemente e zomba das diferenças de classe, lacunas intergeracionais, bem como da alienação e solidão da geração mais jovem quando se trata de tecnologia e socialização. No entanto, esses temas foram brevemente abordados e pouco explorados em todo o seu potencial. É por isso que acredito que Que horas eu te pego? não é engraçado o suficiente - tinha o potencial de zombar dessas realidades, mas ficou aquém.

Em resumo, o filme não mostra totalmente o talento cômico de Jennifer Lawrence e acaba sendo sem graça. Chamá-lo de tentativa de comédia feminista também é superestimar sua intenção, mas como um filme de comédia de baixo orçamento, é bem feito e entrega alguma originalidade. Se tiver algum tempo livre no fim de semana, passar pouco mais de uma hora assistindo pode ser uma boa opção de entretenimento.

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