Eu adoro comédias românticas, talvez até de uma forma pouco saudável, mas não reagi da melhor forma quando vi as 2 horas de duração de Vermelho, Branco e Sangue Azul. É um bom gênero, mas não se sustenta por tanto tempo… né? Eu estava deliciosamente errado. Esperava uma abordagem progressista das comédias românticas do começo do século, um entretenimento queer e nada mais – estava meio certo, definitivamente tem a doçura de uma comédia romântica. O que não esperava era o quão bem o filme comunicaria sua mensagem progressista, tecendo perfeitamente seu tema em um romance fofo e criando um roteiro, ao mesmo tempo, divertido e com uma mensagem política poderosa.
Orgulhosamente político

Baseado no romance de mesmo nome, os criadores de Vermelho, Branco e Sangue Azul provavelmente sabiam que tinham uma história rentável após a popularidade da obra original. Ainda assim, fazer um filme com tanta carga política era arriscado, especialmente em um mundo onde uma mulher negra interpretando Ariel é considerado “acordado” demais e as pessoas reclamam quando personagens femininas de videogame não são extremamente sensualizadas. Quase todos em Vermelho, Branco e Sangue Azul são minoria: o casal principal é gay, Alex é meio hispânico e temas uma presidenta e uma primeira-ministra. Os únicos homens brancos heterossexuais são retratados como vilões por sua oposição ao romance dos jovens amantes – embora a ironia de Stephen Fry interpretando um homofóbico não tenha passado despercebida. Em contraste com outras comédias românticas, que muitas vezes acabam parecendo conservadoras por seus “valores tradicionais”, Vermelho, Branco e Sangue Azul é descaradamente política.
É exatamente esta ousadia que torna impossível para a típica multidão "desacordada" criticar o filme por ser muito político. Outras obras tentam ser sutis em sua diversidade e alegam a falta de política em suas escolhas – Vermelho, Branco e Sangue Azul cospe isso na sua cara. O filme sabe o que é e mantém sua mensagem de forma inabalável, uma sinceridade que fortalece qualquer história – melhor ainda, graças à disposição em se envolver com ideias polêmicas, consegue contar uma história muito bonita. A mensagem central é a importância da representação e isso é mostrado desde as escolhas do elenco, até a garantia de que Alex evite a armadilha do apagamento da bissexualidade – sem falar do grand finale. É tudo uma questão de ser o mais autêntico possível, e o filme expressa isso lindamente ao ser totalmente autêntico consigo mesmo.
A comédia romântica mais cheia de emoção

Mas não é só isso que Vermelho, Branco e Sangue Azul faz bem, porque mesmo que esqueçamos completamente sua mensagem política, talvez ainda seja a melhor comédia romântica que já assisti. Há um clichê na mídia queer de que as histórias sempre acabam sendo sobre as lutas para se assumir e como é difícil ser gay – ao mesmo tempo, ignorar completamente o contexto social também seria errado. Vermelho, Branco e Sangue Azul aborda essa contradição com incrível tato e graça – é fundamentalmente uma história de amor com gays, não uma história de amor gay. Aceitar a própria sexualidade e sair do armário é uma parte importante da vida de uma pessoa queer, mas a história não se detém nisso nem dramatiza esse momento. No final das contas, permanece fiel a si mesma como um romance e faz isso enfrentando questões difíceis, criando aquela sensação perfeita da fofura de comédias românticas sem ficar com a cabeça completamente nas nuvens.
E, cara, que história de amor gostosinha! Não sei se já assisti a um filme que capturasse tão perfeitamente a sensação de ler um romance. Eu suspirava o tempo todo, rindo e corando – até levava a mão ao coração pra evitar que ele saltasse do meu peito. É um filme cheio de clichês e um enredo clássico, se adaptando muito bem a ele e resultando em um produto final incrível. Essa é a história de amor que pessoas queer merecem – não sobre as dificuldades da vida, mas sobre as alegrias dela. Os romances heterossexuais podem ser sentimentais e bobos, mas Vermelho, Branco e Sangue Azul entrega a mesma graça, sem ignorar a realidade, mas vivendo feliz dentro dela.
Os sábios dizem…

Assista ao filme! Claro que não é para todos – é recomendado para maiores de 14 anos e você deve evitá-lo se não gosta de política. Se não for o seu caso, não poderia recomendar mais. O roteiro é lúdico sem ser bobo, a trama é ridícula sem se tornar insuportavelmente boba, e as atuações acertam em cheio. No final, Vermelho, Branco e Sangue Azul é comovente, significativo e simplesmente divertido. Independente de você estar procurando diversão ou política, não pode perder esse.
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