Como uma estrela estonteante na história da cena musical mundial, a carreira brilhante e extraordinária do Queen e de seu vocalista Freddie Mercury não é nada menos do que lendária. No entanto, quando se trata pessoalmente de Freddie Mercury, seu estilo de vida desenfreado e nada convencional é mais cativante do que sua fama. Apesar disso, devido à cuidadosa proteção da imagem do Queen, o tumultuoso Bohemian Rhapsody parece ter pouca conexão com o verdadeiro Freddie Mercury. A história toda e a representação do personagem parecem excessivamente conservadoras. Contudo, ninguém pode argumentar que Bohemian Rhapsody não tem paixão musical.
Como um filme biográfico centrado na música, especialmente após o sucesso tanto de críticas quanto de bilheterias de Straight Outta Compton, Bohemian Rhapsody é, sem dúvida, decepcionante. Porém, ao mesmo tempo, com a mudança do ator principal de Sacha Baron Cohen para Rami Malek, e a mudança de diretor de Bryan Singer para Dexter Fletcher, em comparação com a série de percalços na produção de filmes comerciais recentes – Liga da Justiça, Han Solo, Todo o Dinheiro do Mundo e até mesmo Venom que passou de R-rated (os pais devem acompanhar menores de 17 anos) para PG-13 (os pais são advertidos sobre o conteúdo do filme) – Bohemian Rhapsody, pelo menos, destaca-se na música e na atuação.
Com o poder de hits icônicos, a atuação carismática de Rami Malek, Bohemian Rhapsody na verdade tem alto valor de “assistibilidade” e entretenimento. No entanto, carece das qualidades inovadoras e carismáticas que pertencem ao Queen e ao próprio Freddie Mercury. Talvez para os produtores, completar e lançar um filme biográfico desta conturbada natureza com uma abordagem estereotipada e padronizada já seja uma benção.
Ao olhar para a composição do roteiro, Bohemian Rhapsody é escrito pelos experientes Peter Morgan e Anthony McCarten, ambos com boas credenciais em dramas históricos britânicos, hábeis em capturar e construir relacionamentos interpessoais complexos. Porém, devido à mudança de diretor – do especialista em grande-escala Bryan Singer para o mais focado Dexter Fletcher (Voando Alto) – o filme não está à altura do seu potencial. Talvez alguém com mais experiência, como Ron Howard, tivesse sido uma escolha melhor como diretor.
Em termos de filmes biográficos, Bohemian Rhapsody fica aquém em vários aspectos: A história não tem coerência, é episódica e muito superficial, evitando qualquer complexidade narrativa, parecendo mais os bastidores de um show do que um filme biográfico. O cenário temporal da década de 1970 é confuso, evitando as situações sutis enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+ na época. Porém, ao mesmo tempo, o filme oferece um retrato revigorante do relacionamento emocional entre Freddie Mercury e sua companheira, Mary Austin. Isso, quase por si só, faz o filme parecer mais uma história de amor do que um filme biográfico.
Esta autocontradição permeia todo o filme Bohemian Rhapsody. Às vezes, deixa você em êxtase, faz você lacrimejar, é bem-humorado e descontraído, dando ênfase sem esforço às conexões entre os personagens tanto no roteiro quanto na improvisação. As sequências musicais são incrivelmente contagiantes e persuasivas (principalmente devido às gravações originais das canções do Queen, com algumas partes dubladas por Rami Malek); mas em momentos cruciais, ele se autorregula de propósito, recusando qualquer possibilidade de uma exploração mais profunda, e as atuações dos atores são simplificadas. Considerando a química bem calibrada entre o elenco principal, Bohemian Rhapsody desperdiça muitas boas oportunidades para conflitos intensificados e elevação dramática. Um exemplo claro é a autocracia crescente de Freddie Mercury em fases posteriores, que parece cair do céu sem fazer com que o público realmente sinta o impacto de seu comportamento individual na coesão ou a potencial ameaça ao destino do Queen.
No entanto, semelhante a Tom Hardy em Venom, Rami Malek salva praticamente sozinho Bohemian Rhapsody com uma atuação comovente. Sua imitação do espírito e do temperamento de Freddie Mercury supera os icônicos dentes proeminentes do cantor – especialmente em cenas de performance. Lembre-se de que embora Rami Malek seja alguns centímetros mais baixo do que Freddie Mercury e tenha um físico mais compacto (sem as longas pernas de Freddie), assim que ele coloca o figurino de palco, ele adquire uma semelhança extraordinária.
Já que há um desempenho tão notável, por que Bohemian Rhapsody não pode ser um filme melhor? É difícil não pensar nos dois filmes biográficos sobre Steve Jobs: um é a versão visualmente semelhante, mas narrativamente deficiente de 2013, e o outro é a versão energética, até mesmo ofuscante de 2015. Por que esses dois filmes não podem se fundir em um filme mais especial e pessoal?
Embora Bohemian Rhapsody tenha um tema interessante, é uma biografia tradicional intermediária, segura e, de alguma forma, enfadonha, que descreve o protagonista através de acontecimentos independentes em vez de envolver o público neles. Sua perspectiva sobre a vida pessoal de Freddie Mercury – ansiedade sobre identidade sexual, dor, solidão e imprudência, é rasa e carece de qualquer senso de realidade.
Em outras palavras, como um filme biográfico, Bohemian Rhapsody tem um ponto de vista que não é diferente do de um fã comum. E é exatamente isso que um filme biográfico deve evitar.
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