A Balada de Buster Scruggs: O que torna os irmãos Coen tão mágicos?

Em 2018, os irmãos Coen lançaram A Balada de Buster Scruggs, que recebeu três indicações no 91º Oscar: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Figurino e Melhor Canção Original. Embora não tenha recebido tantas indicações quanto alguns outros sucessos de bilheteria, como Roma (2018), os filmes dos irmãos Coen são sinônimos de qualidade, e A Balada de Buster Scruggs não é exceção.

O filme é composto por seis contos únicos, porém interligados, compilados em um livro intitulado A Balada de Buster Scruggs. Esses contos narram as histórias do Velho Oeste e da fronteira estadunidense. Em vez de dissecar cada história individualmente — uma tarefa bem abordada em várias análises on-line —, examinaremos as seis histórias como um todo coeso, uma grande aventura pelo Oeste dos EUA, extraindo temas centrais da experiência da fronteira.

Ouro e ganância

Uma das principais motivações por trás da expansão para o Oeste foi a busca por riqueza. Essa busca pelo lucro foi uma força significativa que levou as pessoas a explorarem e estabelecer a fronteira. Os personagens do filme são divididos em dois grupos: os que recorrem ao crime para obter riqueza e os que trabalham honestamente para conquistar sua fortuna.

Na terceira história, um jovem ator com deficiência é abandonado por seu cuidador quando seus ganhos diminuem. Os dois personagens vivem à beira da fome e sua aliança, baseada apenas em ganhos monetários, se desfaz quando os lucros diminuem. O ator com deficiência é substituído por uma galinha, ressaltando a dura realidade de que a moralidade e a ética se tornam obscuras em tempos de desespero financeiro.

A quarta história aborda diretamente a busca por ouro, retratando um homem mais velho fazendo prospecção em um cânion. Sua obsessão pela riqueza, ao conversar com a terra sobre o ouro que ela contém, revela sua ganância. No entanto, seu trabalho e determinação contrastam fortemente com o ladrão preguiçoso que o segue, na esperança de roubar suas descobertas. Quando alcançada por meio de trabalho árduo, a busca pela riqueza é retratada como uma virtude.

Essa história resume o tema geral da riqueza: ela é uma dádiva da natureza que deve ser usada com responsabilidade, e a propriedade privada é sagrada e merece ser defendida. A riqueza em si não é má; pelo contrário, são as ações imorais em sua busca que criam problemas. A máxima "um cavalheiro ama a riqueza, mas a obtém com justiça" captura esse sentimento perfeitamente.

Armas e violência

A violência permeia o filme, com os irmãos Coen destacando deliberadamente sua brutalidade. Essa representação ressalta a fragilidade da vida e a preciosidade do que as pessoas possuem durante sua vida.

A primeira história apresenta um pistoleiro tagarela e mortal com uma bela voz de cantor. Sua capacidade de lidar com qualquer situação torna sua profissão altamente perigosa, em que a vida e a morte são decididas instantaneamente. As armas, nesse contexto, são meras ferramentas, não são símbolos de justiça ou maldade, mas representações do estilo de vida cruel do Velho Oeste. As histórias de pistoleiros são familiares devido à natureza efêmera da vida e à inevitabilidade da violência que leva à morte.

O uso generalizado de armas está enraizado na realidade de que, em lugares fora do alcance do governo, a defesa da propriedade e dos interesses de alguém se torna crucial. Essa defesa pode se manifestar na forma de um funcionário de banco se defendendo de ladrões, um garimpeiro protegendo seu ouro ou colonos se defendendo dos ataques de nativos americanos.

Essa “virtude marcial” é inconcebível para nações “amantes da paz” que dependem de outros para se proteger. Na realidade, somente os indivíduos podem garantir que seus interesses sejam protegidos de forma mais oportuna e eficaz, tornando o direito de portar armas uma questão de liberdade pessoal.

Destino e morte

O filme está repleto de várias formas de morte, apresentadas com um tom sarcástico que faz com que a morte pareça quase casual. As inúmeras mortes normalizam o conceito, tornando-o uma questão de fato, quase como uma piada. Toda história termina da mesma maneira: os personagens morrem.

A noção de destino pode ser vista tanto como mistério divino quanto como agência pessoal. Ainda assim, o resultado permanece inalterado — a morte é inevitável. Os mais jovens acabam se tornando mais fortes que todos os pistoleiros, os malfeitores enfrentam a retribuição e os fracos são abandonados.

A sexta história remete à primeira, retratando dois “ceifadores” acompanhando três almas. Sejam elas vulgares, devotas ou racionais, todas devem enfrentar a morte. O palácio dos ceifadores representa o destino final, no qual dois personagens entram nervosos. Ao mesmo tempo, o homem sensato contempla antes de aceitar seu destino.

É interessante notar que os dois ceifeiros parecem ser substitutos dos irmãos Coen — um atrai o público com histórias, músicas e conversas, enquanto o outro destrói suas expectativas. Tendo dominado sua arte ao longo dos anos, os irmãos Coen conhecem bem seu público. Como sugerem os ceifeiros, o público é atraído por histórias familiares porque se vê nelas. Os personagens dos filmes servem como substitutos para o público, vivenciando aventuras que talvez nunca tenham vivido.

Em outras palavras, os personagens do filme passam por experiências em nome do público, criando uma conexão sagrada e íntima. Como alguns dizem, a arte é essencialmente uma ilusão, o que é bem verdade. Uma obra deve estabelecer uma conexão profunda e pessoal com seu público.

Cada uma das seis histórias de A Balada de Buster Scruggs está imbuída de um forte senso de destino e da fragilidade da vida, formando um épico em tom sépia. Esses contos de faroeste são inerentemente estadunidenses, refletindo os valores fundamentais da nação, como autoconfiança, propriedade privada e espírito pioneiro. Em 2018, esse filme serve para lembrar os espectadores do passado glorioso da nação, despertando um senso de identidade e orgulho nacional.