Vamos falar sobre Apocalipse Z: O Princípio do Fim, um lançamento recente do Prime Video que, apesar da premissa simples, me intrigou. E por quê? Porque, apesar de todas as tentativas de ser uma história apocalíptica envolvente, falha em um ponto crucial: o "save the cat" (ou "salve o gato", em tradução livre). E não, não é que o protagonista tenha que literalmente salvar um gato, é só que este filme não consegue fazer esse recurso da trama funcionar de maneira eficaz.
Para quem não conhece, "save the cat" é um truque popularizado pelo roteirista Blake Snyder e amplamente utilizado em filmes de Hollywood. A ideia é simples: ao apresentar um protagonista, ele deve fazer algo que conquiste o público — algo pequeno, mas marcante. Pode ser salvar um gato, ajudar um estranho ou simplesmente demonstrar a essência de sua humanidade. A ideia é estabelecer, desde cedo, uma conexão entre o público e o personagem, para que nos importemos com sua jornada.

Apocalipse Z tenta seguir essa estrutura literalmente trazendo um gato para a história. O personagem principal, um homem que luta para sobreviver em um mundo invadido por zumbis, tem um gato. E embora a presença do bichano pudesse ter sido usada para impulsionar a narrativa ou adicionar uma camada sentimental, ele acaba sendo nada mais do que... um gato. Sinceramente, para cumprir o "save the cat", acho que a idosa na cadeira de rodas serviria melhor do que o próprio animal.
Para Snyder, o "save the cat" é apenas uma forma de desenvolver um personagem — ele não precisa levar o gato junto. É claro que, se isso acontecer, o gato deve se tornar um companheiro, não só um artifício da trama; e se for um companheiro, ele não pode ficar sentado sem fazer nada.
E esse é justamente o problema: o gato não faz nada. Não estou dizendo que ele deveria ser o herói do filme, mas poderia, pelo menos, ter contribuído de alguma forma. Talvez suas travessuras pudessem ter colocado o protagonista em perigo ou atraído os zumbis (todos sabemos como isso acontece em cenários pós-apocalípticos). Ou, talvez, o gato fosse infectado e o dono tivesse que enfrentar a difícil decisão de salvar seu companheiro felino ou deixá-lo partir. Eu também adoro gatos, então nunca desejaria isso a ninguém, mas teria aumentado o apelo sentimental de forma significativa.
Mas não, o gato só fica de boa. É um companheiro constante que não tem nenhum propósito real além de preencher o cenário. É quase como se os responsáveis pensassem “temos um gato aqui e tá tudo bem”. Em um filme no qual a sobrevivência e as escolhas difíceis são o foco, o papel do gato é ridiculamente passivo, o público não se conecta com ele. É como se o animal existisse apenas para ser fofo — e nada mais.

Mas não é só sobre um gato.
Pode ser algo fácil de ignorar, mas quando se tem um gato desde o início do filme e ele não faz absolutamente nada para impactar a trama, é uma oportunidade perdida. Não é só uma falha no "save the cat", mas também revela os grandes problemas de estrutura e de narrativa de Apocalipse Z. O filme começa com uma premissa forte — zumbis, um homem lutando contra um trauma (a morte da esposa um ano antes) e sobrevivência a qualquer custo — mas que é atrapalhada por uma escrita preguiçosa e uma execução básica. O gato é uma metáfora para esse potencial desperdiçado: um pedaço de história que poderia ter sido importante, mas que está ali sem motivo.
No final, talvez não seja só sobre um gato. Talvez seja um lembrete de que as pequenas coisas, os detalhes que ignoramos, podem elevar ou derrubar um filme. Apocalipse Z pode não ser um desastre total, mas é definitivamente uma oportunidade perdida de tornar algo mais atraente. E essa é a verdadeira tragédia — não os zumbis, nem a destruição, mas o gato que não é relevante o suficiente.
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