2024 foi o ano em que o terror slasher — aquele subgênero sangrento e gutural que parecia já ter passado do auge — teve um retorno triunfal. Mas esse não é o slasher do tempo dos nossos pais, em que a única coisa a oferecer era gore e um serial killer. Não, filmes como Terrifier 3 e Sorria 2 são uma mistura perfeita entre o derramamento de sangue tradicional e a ansiedade dos tempos modernos.
Como uma Gen Z que cresceu ridicularizando os filmes de terror e mantendo distância deles, é emocionante testemunhar a evolução do slasher para algo que explora a nostalgia da minha infância enquanto confronta os medos reais que assolam minha geração. Esses filmes não são apenas sobre sobreviver à noite; eles nos fazem enfrentar nossos pesadelos mais profundos e sombrios em um mundo onde está cada vez mais difícil de viver.

Vamos pensar em Terrifier 3, por exemplo. Se em algum momento você achou que os dois primeiros filmes da franquia foram intensos, o terceiro apresentou um novo nível de intensidade. Art, o Palhaço— uma força destrutiva doentia e perturbadora — não é mais apenas um vilão do slasher. Ele é a personificação de algo mais sombrio, que repercute no trauma com o qual muitos de nós estamos lidando. Para Art, a violência não se trata apenas do derramamento de sangue. Ela faz parte de uma crítica maior sobre ciclos de trauma, a maneira como a violência se alimenta e a crise de identidade pela qual estamos passando em um mundo onde todos tentam ser algo que não são. Art não mata apenas por diversão; ele é um reflexo do que mais tememos em nós mesmos e nos outros. De certa forma, ele é o vilão perfeito para uma geração que está sintonizada tanto com os próprios conflitos internos quanto com o caos externo.
Também temos Sorria 2. O primeiro filme nos causou desconforto, graças ao uso inteligente do terror psicológico e à representação de como o trauma pode permanecer nos cantos mais escuros de nossas mentes. Mas Sorria 2 vai além. Não se trata mais apenas de sorrisos assustadores; é sobre a pressão para parecer feliz e equilibrado em um mundo que é tudo menos isso. Na era das redes sociais, em que a vida de todos está exposta e espera-se que todos sorriam para a câmera, esse filme se torna quase insuportavelmente relevante. O terror sobrenatural não está apenas nos sorrisos em si, mas no que eles representam: uma versão forçada e seletiva da felicidade que não passa de uma máscara para o trauma que nos recusamos a enfrentar. Para a Geração Z, Sorria 2 é como se olhar em um espelho e perceber que o sorriso que está olhando para você é falso. É um filme sobre como todos nós somos assombrados pela necessidade de ser algo que não é real, especialmente quando o mundo virtual nos diz quem deveríamos ser.

Ambos os filmes abordam algo que é muito familiar para qualquer pessoa que esteja crescendo nesta era digital: a ansiedade. Ansiedade relacionada a quem somos. Ansiedade relacionada à forma como somos vistos. Ansiedade relacionada ao que a tecnologia está fazendo conosco. Não se trata apenas de terror sem motivo; é um terror que parece ser sobre algo. Esses não são os típicos filmes do subgênero em que o foco está na contagem de mortes; eles voltam a atenção para dentro de nós, nos fazendo questionar nossas identidades, nossos relacionamentos e aquilo de que temos medo. A violência não é gratuita apenas com a intenção de chocar — é uma manifestação do tormento emocional e psicológico que a vida moderna inflige constantemente.
Ao analisar esses filmes, fica óbvio que o terror não é mais apenas sobre sobreviver a um assassino. Trata-se de confrontar o que acontece quando nossos piores medos, aqueles que tentamos ignorar, manifestam-se no mundo real. É sobre como a tecnologia, as redes sociais e até mesmo as pessoas ao nosso redor moldaram nossa percepção e como essas coisas podem facilmente se tornar as ferramentas da nossa destruição. Dessa forma, o terror não é apenas externo — também está dentro de nós.

É claro que não podemos nos esquecer de Pânico VI (2023). A franquia sempre foi autoconsciente e Pânico VI parece uma carta de amor ao subgênero do terror que está evoluindo na era da obsessão digital. Os assassinos não querem apenas fazer uma declaração sobre a morte — eles estão obcecados com a forma como nossa cultura glorifica os crimes reais e como as redes sociais tornam tudo um espetáculo. Eles não matam apenas por diversão; matam porque o mundo em que estão já é um banho de sangue e eles querem se apropriar dele. Não se trata apenas de um assassino com uma máscara; é o ápice de uma geração que viu a morte ser comercializada, higienizada e vendida de volta para nós de uma maneira que não nos deixa escapar. Nesse sentido, Pânico VI é mais do que apenas um slasher; é uma crítica à forma como o terror se tornou popular, consumido e explorado pela era digital.
O que torna esses filmes tão intrigantes e, às vezes, perturbadores, é como eles espelham a complexidade da nossa existência moderna. Para a Geração Z, que cresceu com a internet e as redes sociais, esses filmes parecem mais do que apenas uma tentativa de assustar. Eles se assemelham a um diálogo e confrontam os medos dos quais não podemos escapar: a maneira como estamos sempre no celular, uma vida seletiva, a pressão para sermos perfeitos e a ideia aterrorizante de que nosso trauma, assim como os assassinos desses filmes, pode nunca desaparecer de verdade.
Então, à medida que o slasher encontrou uma nova vida em 2024, ficou clara sua evolução para algo muito mais profundo. Não se trata mais apenas do derramamento de sangue e dos gritos durante a noite. É sobre dissecar nossa cultura, analisar a dúvida e o medo que se escondem sob a superfície e confrontar os monstros que criamos — estejam eles nos cantos escuros de nossas mentes ou à espreita nos espaços entre nossos posts nas redes sociais. Para os Gen Z, não é apenas terror — é terapia. Um alerta. E, precisamos concordar, é divertido demais!




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