Aqui estão as lições que tirei de Death of a Unicorn:
- Will Poulter é o cara!
- Não é o melhor papel de Jenna Ortega, mas ainda assim me convenceu.
- Eu teria lidado com todo o conflito de uma forma diferente.
É isso. Essa é minha crítica. Agora, gostaria de explicar meu terceiro ponto.

O filme começa com Elliot (Paul Rudd) e sua filha, Ridley (Ortega), atropelando um unicórnio enquanto dirigem para a mansão do chefe de Elliot nas Montanhas Rochosas do Canadá. Sim, o filme funciona como uma propaganda sutil do país (parece até que os Estados Unidos gostariam de ter 51 estados).
A primeira ideia de Elliot é bater no unicórnio ferido até se certificar de que está “morto”. Na minha cabeça, até que faz sentido. Uma morte misericordiosa é provavelmente a coisa certa a fazer, embora eu com certeza não teria estômago para isso.
Após atropelar o unicórnio, quer eu o espancasse ou não, teria que tirá-lo da estrada. Essa é a solução mais lógica. Achei questionável que Elliot e Ridley não fizeram isso, mas talvez eles ficaram tão impressionados com essa criatura mítica que seus cérebros pararam de funcionar.
É o básico da segurança no trânsito: se você atropela um animal enquanto dirige na rodovia, é preciso tirá-lo do meio do caminho. É claro que não há outros carros passando, porque as produções dos EUA acreditam que o Canadá tem um vazio populacional. Para ser justo, essas estradas do interior são um tanto quanto desertas mesmo. Ainda assim, vivo ou morto, aquele bicho precisava ser movido. Eu o deixaria na beira da rodovia e iria embora. A natureza se encarrega das coisas naturalmente. Se Elliot tivesse feito isso, teria evitado muitos problemas e salvado muitas vidas.

Mas o diretor e roteirista Alex Scharfman precisava que o unicórnio os acompanhasse, ou então não haveria filme. Se Elliot deixasse o unicórnio para trás, a história se encaminharia para um final de semana com dinâmicas de poder e vínculos familiares estranhos, mas sem unicórnios. Que chatice! Pelo bem da trama, Elliot toma a decisão idiota de carregar aquela carcaça em seu Volvo. Para que este artigo também exista, vamos supor que eu tomaria a mesma decisão negligente.
Eu atropelei o unicórnio e o coloquei no meu carro. Provavelmente estou manchado de sangue roxo, porque esses malditos pesam uma tonelada e estou agindo sozinho. Como Elliot ficou tão limpo? É a magia do cinema, eu acho.
Eu o carrego para dentro do meu carro. Estou coberto de sangue roxo. Enquanto estou dirigindo para a casa do chefe, começo a me sentir muito estranho. Talvez estranho não seja a palavra certa, mas definitivamente estou me sentindo bem, até ótimo, e isso é estranho para mim. Minha visão começa a ficar embaçada. Tiro os óculos e agora consigo enxergar tudo. É um milagre, feitiço ou alguma outra coisa? De repente, me sinto como Max Verstappen, pisando fundo no pedal e fazendo curvas perfeitas em alta velocidade. Chego à mansão do meu chefe em tempo recorde.
Eu tomaria outra decisão diferente da de Elliot. Em sua infinita sabedoria, ele tenta manter em segredo que há um unicórnio “morto” no porta-malas. Por que ele faria isso? Seu plano de esperar até o anoitecer para enterrar o bicho no quintal sem ser visto pelos anfitriões é bem idiota. Após um dia inteiro no porta-malas de um Volvo quente, aquele unicórnio estaria fedorento. Não me importa se é na casa do meu chefe ou não, meu objetivo seria primeiro tirar aquela coisa do meu carro. “Tem um unicórnio morto no meu porta-malas”, seriam as primeiras palavras que sairiam da minha boca, antes mesmo de cumprimentar a todos.
Depois, nós tiraríamos o maldito de lá e o observaríamos. Eles fazem isso no filme, mas demora um pouco para chegar nessa parte. Uma coisa leva à outra e descobrimos a capacidade do unicórnio de se rejuvenescer e rejuvenescer tudo o que toca em seu sangue.

Agora vem o dilema moral. Depois que meu chefe e toda a sua família gananciosa perceberem as propriedades milagrosas do unicórnio, será que eu permitiria que eles o explorassem? É uma pergunta complicada. Porque é claro que essa criatura majestosa deveria continuar viva. Por outro lado, curar o câncer e outras doenças seria muito especial. Porém, há uma quantidade limitada, pois só temos uma dessas criaturas. Ainda assim, seria preciso muito pouco do sangue mágico para salvar uma vida. Poderia ser distribuído com moderação e eficácia, pelo menos por um tempo. É isso que o chefe e a esposa decidem no filme, embora optem por dar a substância a um bando de bilionários malvados por algum motivo inexplicável.
Eu não permitiria isso. Não. Sem chance. Não enquanto eu viver. O unicórnio, se decidirmos explorá-lo, matá-lo e colher seu sangue valioso, seria distribuído de caso em caso. Caramba, até escrever isso expõe o potencial de corrupção. É como diz aquele velho ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Embora você não precise de muito para sobreviver, você precisa de um pouco, e há uma quantidade muito limitada.
“Mamãe mandou eu escolher este daqui, mas como eu sou teimoso…”

A essa altura, provavelmente já descobrimos que há mais do que apenas um unicórnio vagando pelas montanhas. Assim, ficamos diante de um novo dilema. Se houver mais, talvez haja o suficiente para toda a humanidade, se conseguirmos capturar todos eles. Além disso, eles vão nos matar, são reais e vivem conosco na Terra. Então, o segundo dilema moral é: vamos capturar esses malditos e talvez morrer, mas também encontrar uma cura para a humanidade, ou entramos no carro, ligamos o motor e voltamos à vida normal?
A segunda opção! Quando os outros unicórnios aparecerem na mansão do meu chefe, já estarei dirigindo para minha casa sem olhar para trás. Não me importo se esses animais são a solução para questões existenciais e todo o sofrimento humano. As pessoas devem morrer! Já vivemos tempo demais. Que se danem essas criaturas e seu sangue milagroso. É melhor deixá-las em paz. Prefiro viver. Não quero respostas para minha existência. Eu gosto de mistérios. A origem da humanidade é um dos poucos mistérios que permanecem sem solução. Vamos deixar assim. Prefiro viver no mistério e na doença do que ter um chifre de unicórnio enfiado tão fundo nas minhas costas que sairia pelo meu umbigo.

No lugar de Elliot, eu deixaria meu chefe e a família dele à mercê dos unicórnios. Minha filha e eu já estaríamos bem longe dali. Não importa se fiz alguma promessa à minha falecida esposa de que protegeria financeiramente nossa filha. Já sou advogado e vou resolver isso de outra forma. Não preciso dos zilhões que viriam com a cura do câncer. Vou cuidar da garota como posso, levá-la para a universidade e, a partir daí, ela estará sozinha. Pelo menos estará viva e não carregará o trauma de ter visto o pai tomando chifradas de um unicórnio. Eu precisaria conseguir um novo emprego e minhas referências seriam péssimas porque deixei meu chefe morrer. Mas vou conseguir. Já tenho um pouco de sangue de unicórnio no meu organismo, então minhas chances são bem altas. Vou me tornar o melhor advogado dos Estados Unidos, derrubar as grandes empresas farmacêuticas, ganhar meu próprio zilhão e garantir que Ridley leve a melhor vida possível. O resto do mundo continuará sofrendo por doenças, pandemias e câncer, mas essas coisas já acontecem, né? Vou me aposentar, comprar meu próprio chalé nas montanhas e passar minha velhice tentando domar uma dessas criaturas.
Mais uma vez, eu poderia ter evitado tudo isso se tivesse deixado o unicórnio na beira da estrada desde o começo. Mas pensando bem, como seria bom ter uma visão perfeita graças ao seu sangue mágico...
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