Pecadores: o filme excepcional de vampiros que a gente precisava Spoilers

Ok, preciso comentar uma coisa, Pecadores é absurdo de bom.

Comecei a assistir pensando: “Legal, outro filme de vampiros, provavelmente tentando imitar A Bruxa com um toque de Crepúsculo e um filtro da A24”. Mas não. Pecadores não cai nessa armadilha. Ele redefine o gênero de uma maneira mais caótica, profunda e estranha do que eu esperava — e digo isso como alguém que basicamente já não entra mais na onda dos hypes.

Sério, já me decepcionei muito por acreditar nos rumores dos festivais. Você sabe do que estou falando: “uma estética arrebatadora”, “atuações de arrepiar até a alma” ou “o Hereditário desta geração”. Que preguiça. Sou uma usuária bem cínica do Letterboxd, daquele tipo clássico que usa demais a tag superestimado, mas bom. O filme me calou rapidinho.

Essa obra é maluca no melhor sentido. Tem folclore gótico, puritanismo norte-americano, horror corporal grotesco, crises morais sensuais e uma narrativa distorcida pelo tempo que parece um sonho febril escrito por Robert Eggers em colaboração com um Neil Gaiman embriagado. De alguma forma, deu certo. Tipo, muito certo mesmo.

A história começa nos Estados Unidos do período colonial, mas não na versão limpinha da PBS. Estamos falando de botas sujas de lama, dentes estragados e o tipo de trauma religioso que dá para sentir o cheiro de longe. Um vilarejo pequeno e reprimido é atingido por uma série de assassinatos brutais. Corpos sem sangue. Entra em cena nossa protagonista, uma mulher amaldiçoada, possuída ou simplesmente curiosa demais para a realidade da cidade. Ela tem segredos. A cidade tem segredos. Até as malditas cabras provavelmente têm segredos. E, à medida que as coisas se desenrolam, você percebe que não se trata apenas de um mistério. É uma história mais no sentido de com que diabos estamos lidando?

E o lance dos vampiros? A cereja do bolo. Pecadores não nos dá os vampiros europeus gostosos com camisas de seda e delineador nos olhos. Esses sugadores de sangue são ferozes, antigos e mais folclóricos do que fantásticos. Pense em Nosferatu e A Bruxa, mas com uma pitada de podridão atribuída por David Cronenberg . Eles não brilham — eles fedem. São monstros no sentido mais bíblico e desagradável, e a maneira como o filme explora o pecado, o desejo e a perdição parece genuinamente transgressora.

O que o torna ainda mais caótico é o núcleo emocional por trás de toda a sujeira. Não se trata apenas do estilo em detrimento da substância. Em essência, Pecadores trata de crença — como ela pode prender, cegar ou corromper o indivíduo. E nossa protagonista? Ela passa por isso. Você a vê lentamente se despir da pele da filha obediente, da boa mulher, e se tornar algo... não exatamente humano, mas totalmente ela mesma. Essa transformação é crua ao extremo.

Além disso, não posso deixar de dar créditos ao ritmo. Ele é lento, mas lento de um jeito que indica que algo está para acontecer. E quando acontece — Jesus. A última meia hora é o puro suco do caos. Acho que até esqueci de respirar.

É impressionante. Em cada quadro, uma pintura de pesadelo. A cinematografia tem aquela textura oleosa à luz de velas que nos faz sentir como se estivéssemos assistindo a algo proibido. E o design de som? É de arrepiar. Há um zumbido baixo que faz com que você sinta que o próprio filme está possuído.

Esse é o tipo de filme que não se vê mais. Não faz parte de uma franquia. Não está tentando vender produtos oficiais. É simplesmente ousado, assustador e totalmente ele mesmo. Isso me fez lembrar de quando assisti pela primeira vez ao O Labirinto do Fauno e percebi que terror poderia ser arte sem perder nada do impacto.

Se eu fosse fazer alguma queixa, seria apenas uma: talvez ele seja pesado demais para alguns espectadores. Ele não vai pegar na sua mão e dizer que vai ficar tudo bem. Algumas pessoas vão se perguntar: “o que foi que eu acabei de assistir?”. Mas e o resto de nós? Ainda vamos falar sobre Pecadores por um bom tempo.

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