Quem acredita na sorte compreendeu o sentido da vida

O homem que disse "Prefiro ter sorte do que ser bom" analisou profundamente a vida. As pessoas têm medo de encarar como grande parte de nossa existência depende da sorte.

É assustador pensar que muitas coisas estão fora de nosso controle.

Ponto Final: Match Point nos releva essa realidade. É um filme muito diferente do estilo cinematográfico habitual de Woody Allen, porque deixa de lado o contexto de Nova York, os devaneios intelectuais e a hipocrisia generalizada da classe média. Em vez disso, o filme é apresentado como um thriller comercial e objetivo.

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Enquanto muitos defendem que Ponto Final: Match Point enfatiza a importância da sorte na vida, eu diria que o filme retrata o acaso na vida.

Ponto Final: Match Point conta a história de Chris, um tenista profissional que virou treinador e coincidentemente conheceu Chloe, uma herdeira, casouse com ela e entrou para a sociedade de classe alta. No entanto, ele não ama sua esposa de verdade e começa um caso secreto com uma linda atriz, porém de classe baixa, chamada Nora. Pressionado por sua família e pela gravidez inesperada de Nora, ele planeja meticulosamente matar sua amante, e assim o faz, evitando as consequências jurídicas.

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Se analisarmos essa história de maneira objetiva, ela retrata um bandido imoral, egoísta e sedento por dinheiro que teve coragem de matar a amante e seu filho que nem havia nascido para preservar seu status. No entanto, por mais estranho que pareça, depois de assistir ao filme, o público raramente nutre ódio pelo protagonista masculino e até suspira aliviado quando o personagem é solto pela polícia.

Primeira pergunta: como o filme controla as emoções do público e por que estamos inconscientemente do lado de Chris?

Segunda pergunta: por que o diretor escolheu retratar o personagem dessa forma e o que ele pretende expressar?

Para responder à primeira pergunta, desde o início, a caracterização de Chris pelo diretor facilita a simpatia dos espectadores pelo personagem, pois eles até conseguem se identificar com ele. Chris é um jovem comum e podre, mas possui uma forte ambição. Além de ensinar tênis, ele lê os livros preferidos pela sociedade de classe alta e estuda minuciosamente suas preferências, bem como satisfaz cuidadosamente seus gostos. Sua natureza humilde e digna de pena ressoa com o público que luta por uma vida melhor, atraindo a simpatia dos telespectadores.

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Por meio de uma adaptação inteligente, uma humildade talentosa e um charme assumido, ele conquista o amor de Chloe, a jovem rica. Essa mesma abordagem teve sucesso com os pais e o irmão de Chloe e até mesmo com a amante de Chris.

O público encontra desculpas para todos os erros de Chris ao longo da história. Por exemplo, os espectadores atribuem a infidelidade do personagem ao fascínio irresistível de Nora, alegando que ninguém pode resistir a ela. Eles argumentam que as mentiras são necessárias para manter o status e questionam se há algo de errado com um jovem ambicioso e trabalhador que luta por uma vida melhor.

Por meio da narrativa, o público aceita aos poucos a ganância, a luxúria e a hipocrisia de Chris, diminuindo constantemente os padrões morais.

Um dia, Nora, que não está mais satisfeita em ser apenas a amante secreta de Chris e deseja mais. Chris, temendo que tudo o que ganhou vá embora, desenvolve uma vontade assassina. O diretor até faz Nora gritar do lado de fora do local de trabalho de Chris, deixando o público desconfortável. Esse acontecimento tornase o ponto crítico que acaba com a determinação de Chris, assim como a do público. Nossa simpatia inicial pela mulher foi embora.

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Depois de entender as motivações conforme o enredo continua, as emoções do público alinham-se com as do Chris. A morte de Nora é vista como consequência de sua própria ganância, e não porque Chris é cruel.

Na próxima parte da história, a abordagem do diretor é bastante intrigante. Vamos observar a forma em que o diretor apresenta a cena do assassinato: a câmera foca inicialmente no protagonista masculino e captura uma visão lateral enquanto ele segura uma arma. Em seguida, faz a transição para uma cena dele puxando o gatilho e, na sequência, mostra o personagem caindo no chão.

Normalmente, depois que alguém é morto, a câmera já mostra a vítima caída no chão, ao contrário desse filme. Em vez disso, a câmera mostra diretamente Chris recuperando seus sentidos e manuseando a arma de fogo. Isso é feito para evitar que o público sinta pena ou nojo em excesso. Mesmo quando Chris está tirando um anel da mão da vítima, a câmera foca em apenas uma das mãos. Ao evitar mostrar a morte horrível da vítima, é menos provável que o público simpatize com ela e pode ver toda a situação da perspectiva do protagonista masculino. O objetivo do diretor é fazer com que o público mergulhe na lógica do protagonista, impossibilitando que ele se desvincule dela.

Como o filme foi narrado da perspectiva do protagonista masculino, todas as emoções e sentimentos do público giram em torno dele. O que quer que esse personagem faça e não importa o tanto que ele possa ser imoral, desprovido de emoções ou mesmo insano, o público consegue aceitálo porque se identifica com ele. Além disso, a câmera também mostra ao público inúmeras expressões de agonia no rosto do protagonista masculino depois que ele comete o crime, dando a impressão de que ele sente muita dor e luta contra ela, o que mostra uma certa consciência. Isso faz com que o público perceba que Chris é apenas uma pessoa comum, assim como nós, que é forçado a matar devido às circunstâncias da vida.

Voltando à segunda pergunta…

ao retratar a história dessa maneira, o que o diretor está tentando expressar?

Você se lembra do começo do filme? Havia uma bola de tênis suspensa acima da rede e, se ela cair, você ganha; se não, você perde. Isso representa o significado do título do filme Ponto Final: Match Point, que se refere ao último ponto necessário para garantir a vitória.

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Depois de cometer o assassinato, Chris se encontra no ponto final de sua vida. Se ele for pego pela polícia, enfrentará a ruína e perderá tudo. Por outro lado, se ele não for encontrado, pode se livrar do envolvimento com a amante e viver uma vida de luxo e privilégios.

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Para ser mais específico, tudo isso é simbolizado pelo anel descartado. Se o anel for descoberto pela polícia como evidência, seus crimes podem ser expostos. No entanto, se um viciado em drogas o pegar, ele pode se tornar um bode expiatório.

O anel cai no rio? Aqui, o diretor faz uma metáfora inteligente, que simboliza o destino do protagonista, seja ele de boa ou má sorte. O que é ainda mais impressionante é que o protagonista quer que o anel passe por cima da rede, mas o que acaba salvando seu destino é o anel não passar por cima da rede, fazendo com que um indivíduo sem sorte acabe se tornando um bode expiatório.

Isso mostra a admiração de Woody Allen pelo aspecto incontrolável da vida. O que você vê pode não ser necessariamente a verdade. Um resultado aparentemente coeso é muitas vezes composto por uma multiplicidade de imprevistos e caos.

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Em nossas vidas, o trabalho duro é obrigatório. Mas acho que todo mundo tem medo de admitir o grande papel que a sorte desempenha. Os cientistas estão confirmando cada vez mais que toda a existência está aqui por acaso. Sem planejamento e sem propósito.

Como isso é desesperador, mas a vida não é assim mesmo?

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