No final de A Casa que Jack Construiu, um serial killer brutal (e muito estranho) encontra seu fim e é lançado no Inferno. Verge o guia pelo além em uma mistura estonteante de realismo, arte e fantasia que, de alguma forma, consegue fazer com que a vida após a morte pareça palpável e autêntica. Por fim, eles chegam a um poço horrível onde o magma jorra sem parar; o caminho para o círculo mais profundo do Inferno. No entanto, esse não é o destino de Jack. Apesar da perfeição que ele buscou com os assassinatos, ele não está destinado ao Céu mais elevado e nem sequer chega ao Inferno mais profundo. Sua violência e crueldade são, na melhor das hipóteses, medianas, impedindo-o de ter a paz do Céu e ao mesmo tempo impedindo-o de ser colocado entre os verdadeiros monstros do mundo.
Para Jack, isso é inaceitável.
Ele então percebe uma escada do outro lado do poço, inacessível devido a uma ponte que Verge diz ter sido quebrada há muito tempo. Assim que Verge diz a Jack que ela leva ao Céu, ele está claramente determinado a chegar lá, planejando rastejar pelas paredes do poço. Jack não é tão único e inovador quanto gostaria, então Verge avisa a ele que outros que tentaram falharam. Contudo, Jack não vai mudar de ideia e inicia sua busca final e desesperada pelo Céu, apenas para cair no abismo mais profundo do Inferno.

É uma bela sequência, mas o que isso significa? A arte é subjetiva, mas depois de assistir ao filme e olhar mais para o Inferno, inspirado na obra de Dante, a moral parece ser: não há pecado maior do que acreditar que somos mais do verdadeiramente somos. Ao longo do filme, Jack fala sobre os assassinatos como se fossem uma forma de arte elevada; uma forma de buscar a perfeição e a beleza divinas. Ele fala como se fosse o filósofo de sua época, estabelecendo conexões entre diferentes campos do conhecimento e fingindo ser um grande conhecedor da arte e da degradação. Entretanto, o que ele não consegue perceber é que a perfeição que ele está tentando alcançar é puramente vulgar e material, tão longe do divino quanto uma pessoa pode estar. Ele gostaria de ser um arquiteto, alguém que pudesse criar e comunicar beleza, mas ele é e sempre será um mero engenheiro, preso no mundo prático e físico, sem nunca ter qualquer compreensão sobre alma ou espiritualidade.
O círculo mais profundo do Inferno está reservado para aqueles que cometem traição, e o abismo mais profundo dentro dele, Judecca, é destinado àqueles que traem seus mestres ou benfeitores. Nesse caso, a arrogância de Jack o leva a buscar um lugar no Céu, como se suas ações violentas e cruéis fossem facilmente perdoadas. Ele se recusa a ir para um círculo superior do Inferno, rejeitando a misericórdia de Deus e tentando se igualar a Ele ao ter a audácia de tentar ser o juiz final e decidir o próprio destino. Ao fazer isso, ele desperdiça a última chance de se arrepender ao admitir os erros e trai o maior mestre que existe em um universo onde o Céu e o Inferno são reais: Deus. Assim, tendo provado a profundidade da corrupção da alma, ele cai no abismo.

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