A recente tentativa de assassinato de Donald Trump se tornou, sem dúvida, a maior notícia dos últimos dias. Vivemos em uma época turbulenta, na qual assassinatos motivados por ódio e divergências parecem estar aumentando.
Ao refletir sobre a história, podemos encontrar referências adequadas a esse tópico no passado. Aqui estão quatro filmes com temática de assassinato que me marcaram muito e que analisam esse tópico contemporâneo, mas atemporal, a partir de perspectivas técnicas, psicológicas, sociológicas e de teorias da conspiração.
O Dia do Chacal (1973)
Baseado no romance de suspense best-seller de Frederick Forsyth, O Dia do Chacal inspira-se na tentativa fracassada de assassinato do presidente francês Charles de Gaulle no verão de 1963. Esta tentativa foi orquestrada pela organização francesa de direita radical OAS (Organização Secreta do Exército), descontente com a perda da Argélia, e executada por um assassino misterioso chamado Chacal. O vice-comissário francês Lebel recebe a tarefa de capturar Chacal a qualquer custo.
Dirigido pelo cineasta veterano de Hollywood Fred Zinnemann, o filme mostra suas habilidades magistrais. O estilo narrativo discreto e as técnicas audiovisuais frias e precisas de Zinnemann tornam uma história com um desfecho conhecido incrivelmente envolvente. É um jogo de gato e rato entre a polícia e o assassino, quase um concurso de calma e crueldade. O retrato de Edward Fox como o implacável Chacal é um exemplo didático de uma personalidade antissocial, enquanto o Lebel de Michael Lonsdale é perspicaz, calmo e impiedoso. O estilo forte do filme se assemelha aos filmes policiais de Jean-Pierre Melville, e a dinâmica de gato e rato é como uma versão europeia dos anos 1970 de Fogo contra Fogo.
No fim das contas, o final da história depende do acaso. O vigilante Lebel identifica a localização do assassino, mas Chacal ainda consegue disparar o tiro destinado à de Gaulle, que milagrosamente se esquiva ao inclinar-se para a frente. As pessoas sempre tentam controlar seus destinos por meio do planejamento, mas, no final, o destino muitas vezes parece uma piada.
Taxi Driver (1976)
Taxi Driver de Martin Scorsese tornou-se um ícone da cultura pop, tanto que as pessoas podem se esquecer da controvérsia que provocou quando foi lançado e como inspirou John Hinckley Jr., que tinha problemas mentais, a tentar assassinar o presidente Ronald Reagan em 1981. A bala de Hinckley perfurou o fígado de Reagan, fraturou uma costela e feriu outras três pessoas, deixando uma permanentemente deficiente.
Hinckley alegou que suas fantasias delirantes foram parcialmente inspiradas por sua obsessão com Taxi Driver e sua estrela, Jodie Foster. Ele viu o assassinato como uma maneira de chamar a atenção de Foster. No filme, o protagonista Travis acaba resgatando a personagem de Foster, a prostituta infantil Iris, em um tiroteio. Porém, seu primeiro alvo não era o cafetão de Iris ou seus clientes, mas o candidato à presidência Charles Palantine. Seu plano imaturo foi frustrado por um agente do Serviço Secreto.
Taxi Driver é um estudo de caso de uma mente perturbada, retratando como a solidão e o isolamento podem levar uma pessoa ao limite. É um filme perigoso (muitos indivíduos perturbados o consideram seu filme favorito), mas também é uma obra de arte indiscutível. Como declarou o roteirista Paul Schrader: “A arte não deveria ser censurada. Porque se você o fizer, o mundo perde Crime e Castigo, mas Raskolnikov ainda existe”.
JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (1991)
A análise de mais de três horas de Oliver Stone do assassinato de Kennedy é, sem dúvida, seu auge como diretor em termos de proeza técnica, mas também gerou muita controvérsia devido à mistura de fatos e ficção. A intenção de Stone de borrar os limites entre a realidade e a ficção atraiu críticas.
No entanto, JFK é um banquete cinematográfico. Stone usa diferentes imagens de arquivos e narrações entrelaçadas para criar uma emocionante história policial, conduzindo-nos por um labirinto de evidências em direção à verdade, transformando, por fim, a mensagem central em um hino antiguerra. Kevin Costner, interpretando o procurador Jim Garrison, é a personificação do espírito estadunidense em sua melhor forma. Gary Oldman, que não era tão conhecido na época, interpreta vividamente Lee Harvey Oswald, o deplorável peão neste jogo. O recém-falecido Donald Sutherland também entrega uma atuação de destaque.
Um Tiro para Andy Warhol (1996)
Um Tiro para Andy Warhol é o filme de estreia da diretora canadense Mary Harron (Psicopata Americano, Alias Grace), e conta a história de vida da feminista radical Valeria Solanas e sua trajetória até a tentativa de assassinar o famoso artista Andy Warhol.
Valeria Solanas foi considerada insana pela maioria das pessoas durante sua vida, mas esse legado está sendo reavaliado hoje em dia. Seu Manifesto SCUM (Sociedade para Acabar com os Homens, em tradução livre) é um texto essencial na história do feminismo, e sua infância trágica de exploração e abuso moldou sua personalidade extrema e radical. Esse é o aspecto no qual o filme se concentra.
Lili Taylor interpreta Solanas com uma mistura de loucura e humor, demonstrando sua vitalidade, persistência e coragem para criar em seus próprios termos, mesmo que essas características sejam vistas como insanidade por muitas pessoas. Por fim, a relação entre Solanas e Warhol é uma história triste de uma pessoa buscando amor e reconhecimento e um indivíduo emocionalmente distante, uma tragédia aparentemente predestinada desde o nascimento.
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