Maratonei a 2ª temporada de Round 6 assim que estreou na Netflix. Embora não tivesse visto a 1ª, rapidamente percebi que isso não seria um problema. Porém, na cena final, devo dizer que a sequência está longe de ser impressionante. Por ser um thriller que foca em jogos brutais de sobrevivência, a trama sofre de uma eficiência narrativa fraca e um ritmo geral lento; além disso, o desenvolvimento dos personagens é raso. Depois de finalmente assistir à 1ª temporada, descobri que os novos jogos parecem apenas mostrar como os antigos funcionavam, com impacto mínimo no desenvolvimento dos personagens.
Mais importante ainda, senti uma sensação persistente de contradição e desconexão enquanto assistia à 2ª temporada, que começa onde a anterior parou. O protagonista Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), agora ciente da brutalidade e da injustiça dos jogos, está determinado a lutar contra os organizadores. Mesmo assim, a série faz com que ele participe novamente da competição. O absurdo dessa premissa não necessita de explicação — não é possível derrubar os opressores submetendo-se à opressão.
Enquanto isso, como espectadores, não podemos deixar de sentir empatia pelo protagonista e adotar sua perspectiva. Quando ele ganha os jogos, os espectadores compartilham sua adrenalina e comemoram sua sobrevivência. No entanto, isso cria uma profunda ironia: tanto o protagonista quanto o público entendem que o verdadeiro objetivo é lutar contra os organizadores. Também sabemos que a sobrevivência dele implica na morte dos outros. Assim que Gi-hun percebe que o jogo é uma conspiração terrível, que usa o triunfo como isca e o sacrifício de muitos para satisfazer os desejos perversos daqueles que estão no poder, sua vitória pessoal se torna insignificante, e até mesmo imoral.
Essa contradição gritante entre vitória pessoal e integridade moral fica mais evidente nos jogos de equipe. Por um lado, a sobrevivência dos pequenos grupos, cujos membros demonstram união, fornece motivação e inspiração. Por outro, alguns participantes são mortos um atrás do outro, manchando o chão de sangue. Esse contraste prejudica significativamente o valor de entretenimento e o atrativo da experiência de jogo da série.
O que é ainda mais desconcertante é que a 2ª temporada mal se aprofunda nos conflitos internos e na dor dos participantes sobreviventes. Na 1ª, quando o marido sobreviveu ao jogo de bolinhas de gude derrotando a esposa, ele quase teve um colapso mental e acabou optando pelo suicídio. Mas, na 2ª temporada, os participantes parecem indiferentes à morte dos outros, concentrando-se apenas no prêmio em dinheiro ou na esperança de sair do jogo através da votação. O único que genuinamente demonstra preocupação com a morte dos companheiros é Cho Hyun-ju (Park Sung-hoon), que teve o melhor desenvolvimento de personagem da temporada.

Quando Gi-hun reúne os participantes e, por fim, recorre à resistência violenta, Round 6 abandona totalmente seu valor de entretenimento. Acredito que o diretor e roteirista Hwang Dong-hyuk exibe uma coragem considerável, já que a determinação dos oprimidos em resistir contra os opressores não pode ser transformada em mero entretenimento. No entanto, isso também cria uma sensação de desconexão na 2ª temporada, embora talvez isso fosse inevitável no momento da confirmação da sequência.
De acordo com a entrevista de Hwang à BBC, ele inicialmente não tinha planos de filmar uma continuação da história, mas mudou de ideia por dinheiro. "Mesmo que a 1ª temporada tenha sido um grande sucesso global, eu sinceramente não ganhei muito (dinheiro). Então, fazer a 2ª vai me ajudar a compensar o sucesso da 1ª também". Hwang passou 10 anos se preparando para Round 6, contando até com empréstimos para sustentar a família. A Netflix pagou a ele uma quantia modesta como adiantamento, fazendo com que não lucrasse com os £650 milhões que a série rendeu à plataforma. Apesar de Hwang também ter declarado: "Eu não terminei a história completamente", está claro que as finanças desempenharam um papel significativo na decisão de dar continuidade a Round 6.
Embora a 1ª temporada tenha deixado potencial para uma sequência, a questão é saber se foi uma boa escolha. A desconexão na 2ª também é evidente na forma como a história avança de maneira simultânea enquanto se faz repetitiva. Quando Gi-hun e os companheiros tentam encontrar e confrontar os organizadores nos bastidores, a história avança com lentidão. Assim que ele entra novamente no jogo, parece uma repetição da 1ª temporada, apesar das novas configurações. No final, a sequência não progride a história de uma forma eficaz, nem recupera o impacto e a novidade da temporada anterior.

Contudo, há algo inesperado: as votações, que não foram muito enfatizadas na 1ª temporada. De acordo com as regras, os participantes podem votar para encerrar o jogo se a maioria concordar. A temporada anterior explorou a possibilidade de saída dos participantes, mas mostrou que eles retornariam à dura realidade de suas vidas. Enquanto isso, a sequência mergulha em outro cenário, em que os votos podem ser divididos igualmente ou favorecer a continuação da competição.
Curiosamente, 2024 poderia ser chamado de "ano das eleições", com uma estimativa de bilhões de pessoas, representando cerca de metade da população mundial, que votaram nas eleições de seus países. Só o tempo poderá determinar como esses processos, vitais para a democracia da sociedade, irão se desenvolver e influenciar o mundo. Lamentavelmente, a 2ª temporada de Round 6 retrata uma possibilidade com pessimismo: as eleições são manipuladas pelos organizadores nos bastidores; diferentes grupos opositores — cada um defendendo as próprias crenças — voltam-se uns contra os outros, desencadeando um confronto feroz em vez de abordarem questões sistêmicas. O processo eleitoral se torna uma forma de dividir as pessoas em campos opostos, aumentando a hostilidade e a violência enquanto os verdadeiros opressores permanecem intocados.
Se Round 6 serve de metáfora para uma sociedade que promove a competição individual implacável sob o neoliberalismo, então essa metáfora de eleições e divisão social está perfeitamente alinhada. Quando os limites são determinados, as pessoas passam a enxergar os desafiantes como inimigos e se concentram em derrotá-los, ignorando a intransponível opressão de classe que paira sobre elas.

"Ao fazer esta série, me perguntava constantemente: 'Nós, seres humanos, temos o que é preciso para desviar o mundo desta trajetória ladeira abaixo?'. Honestamente, eu não sei", disse Hwang.
Ele levantou uma questão que atinge o cerne de nossa responsabilidade coletiva. Mudar o curso de um mundo em espiral descendente de exploração requer mais do que esperança passiva — exige coragem e resistência ativa por parte dos criadores, dos espectadores e de cada indivíduo. Diretores como Hwang devem criar narrativas que confrontem a opressão do sistema, rejeitem o fascínio vazio do sucesso comercial que silencia a verdade em prol do lucro e atravessem a fachada do entretenimento.
As dificuldades financeiras enfrentadas pelos participantes do jogo e pelo próprio Hwang — que foi explorado apesar de ter criado um fenômeno global — não são uma repercussão da depravação individual ou um problema grave da indústria cinematográfica, mas, sim, os sintomas de um sistema capitalista implacável concebido para lucrar com cada gota de criatividade e sofrimento.
A questão já não é se podemos conduzir o mundo para um caminho melhor, mas se temos força de vontade para destruir os mecanismos que nos mantêm presos nesse ciclo de exploração. Se o jogo capitalista não tem uma saída real, não estaremos todos apostando em nossas vidas?