A primeira vez que vi uma pessoa morta, foi aos 11 anos de idade. Era uma vizinha e amiga muito querida de minha mãe e ela morreu colocando bobs no cabelo. Fiquei pensativa por muito tempo, me perguntando se ela tinha ido para o céu ou para o inferno. Na minha ingenuidade, acreditava que eram as únicas opções depois que o espírito deixava o corpo físico. Às vezes, imaginava Deus como um senhorzinho de cara amarrada, com um cajado na mão, decidindo o tempo todo quem seria o próximo a morrer ou, quais novos castigos criaria a fim de nos forçar a ser bonzinhos. Sabe, aquela história de “ai, ai, ai… Deus tá vendo e Ele não gosta de criança que faz isso!”. Morria de medo dos castigos divinos, mas ainda assim, me arriscava.
Já adulta e com outra ideia da imagem de nosso Criador, recebi consolo ao assistir O Auto da Compadecida. A ideia de que, ao sair da mortalidade, vamos ao encontro de Jesus Cristo e que ainda temos chances de fugir do lago de fogo e enxofre.
Pode parecer engraçado, mas cheguei à conclusão de que o ‘diabo’ pode não ser tão temível quanto eu achava, nos meus pesadelos infantis. Talvez o fato de o filme retratar esse ser malévolo de forma caricata, tenha me feito pensar que somos capazes de escapar de suas garras afiadas, dentes pontudos e odor fétido.
E se, mais do que escapar do rabado, pudesse ser-nos concedida uma segunda chance? Sim, voltar à vida terrena e continuar de onde paramos?… Quantos aproveitariam essa oportunidade para corrigir suas falhas, fortalecer suas fraquezas, reconsiderar seus caminhos tortuosos e garantir de vez, uma passagem direta para o Reino dos Céus? O fato é, que não há segunda chance. Uma vez que nossa senha é chamada para o encontro com o Juiz Supremo, nada mais há para ser feito. nem adianta querer colocar outro na sua frente que, essa fila ninguém quer furar. Alguém disse que o tempo para nos prepararmos para o encontro com Deus é HOJE! João Grilo e sua turma nos deixaram um legado, talvez intrínseco, mas real, de que, a vida é uma só e precisa ser bem aproveitada. Não com mundanismo e desonra, mas, desfrutando dos bons momentos, dos amigos sinceros, da beleza de respirar e cantar e sentir; porque cada dia é uma dádiva e, por isso, se chama 'presente'.
Não estou, com este artigo, fazer uma apologia à religião. Definitivamente, não é sobre isso! É sobre sermos mais humanos, mais alegres; é sobre nos distrairmos com o canto de um pássaro ou o espetáculo do sol se pondo no horizonte azul. ou ainda, aproveitar as oportunidades de fazermos o bem, como a Rosinha, recém casada com o maravilhoso Chicó, ensinou: “às vezes, Jesus Cristo se disfarça de mendigo para testar os homens”. Então, pelo sim, pelo não, dividir o pouco que temos com quem tem nada, é uma boa forma de amenizar nosso encontro com o Criador. Por fim, viver o hoje porque “tudo que é vivo, morre”.
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