
Eu decidi dar uma chance a um filme de terror nojento e gore que estão classificando como “cult” e que não se conecta com aqueles de nós que decidem ser um pouco mais… reflexivos. Não quero soar como um analista sênior da sétima arte, longe disso. Embora eu tolere experiências cinematográficas que estão longe de serem uma maravilha aos olhos mais críticos, nesse caso não poderia mentir para mim mesmo. Já faz um tempo que eu estava me sentindo sonolento e desanimado. Com as últimas forças que me restavam, resolvi dar uma chance a um título que, para dizer o mínimo, me gerou uma certa curiosidade. Essa foi uma palavra muito mais poderosa do que qualquer outra campanha de marketing e nos mostra que vivemos em uma época na qual as publicidades convencionais já não têm mais o mesmo efeito...
Nunca me considerei um cinéfilo que exalta o poder gráfico dos visuais, mas me considero um fã daquilo que choca. Cuidado para não confundir, pois são duas coisas totalmente diferentes. Pode parecer bastante confuso mencionar a palavra, já que um choque é uma condição que ocorre em nosso corpo quando não há fluxo sanguíneo suficiente para funcionar de maneira adequada. No cinema, dizer que um filme é chocante significa que ele nos paralisou em um determinado momento, ou talvez durante a maior parte da sessão, resultando em infinitas sensações e emoções que se entrelaçam e nos deixam reflexivos. Ao pensar em choque, me vem à mente a falta de esperança que existe no final de O Silêncio do Lago, a sequência paralela do declínio total dos protagonistas em Réquiem para um Sonho… ou aquela imagem obscura que nunca conseguimos ver, mas podemos imaginar, quando Morgan Freeman diz “John Doe está no controle” em Seven: Os Sete Crimes Capitais.

Nunca me senti assim assistindo aos três filmes (até agora) da franquia Terrifier, mesmo que o diretor tivesse essa intenção. O terror, como devemos ter em mente, é uma emoção subjetiva que muda com o passar do tempo. Se há dez anos filmes como Invocação do Mal me assustavam, hoje posso dizer que não me assustam mais. Meus medos foram os que mudaram, mas os filmes continuam os mesmos. Entendeu o conceito? Este ano foram lançados dois filmes de terror que realmente me aterrorizaram: Longlegs - Vínculo Mortal e A Primeira Profecia. Ambos se desenvolvem de maneira lenta, mas definitivamente se dedicaram a entregar algo inovador e que, ao mesmo tempo, mantém referências ao gênero sem perder a identidade em nenhum momento.
Porém, o Damien que eu menos queria que ficasse famoso está conseguindo, (eu teria preferido que Hollywood NÃO cancelasse Damien Chazelle após Babilônia, embora sempre haja esperança) com um sucesso inesperado que deixa o Coringa de Joaquin Phoenix e sua sequência em total êxtase de vergonha. Damien Leone, de quem muitos não sabiam absolutamente nada até poucos meses atrás, soube pegar diversas ideias, colocá-las de maneira desordenada e tosca em seu liquidificador mental e criar este novo ícone do slasher moderno: Art, o Palhaço. Uma entidade em forma de ser humano com maquiagem de palhaço, dentes demoníacos, uma curiosa “capacidade” de nunca morrer (uma característica comum nesse tipo de franquia) e sempre em silêncio, um fator que, por algum motivo, gerou uma conexão com o público. Mas é claro que isso não é novidade...

Jason Voorhees, Michael Myers e até o protagonista de Feriado Sangrento pertencem a esse seleto grupo de assassinos que não querem, não devem ou não podem falar, como se isso lhes tirasse a aura que os torna reconhecíveis. Nesse contexto, e considerando que não há muitas discussões recentes sobre esse subgênero do terror além da tentativa de ressurreição de Pânico ou algum outro exemplo razoável, Damien Leone (que recebeu esse nome porque a mãe era uma grande fã da franquia A Profecia) decidiu dar vida a uma história cheia de clichês, nada atualizada nem inovadora dentro do microuniverso de Terrifier. Temos a jovem traumatizada pelos horríveis assassinatos do palhaço, uma lista interminável de personagens secundários que ignoram a presença dele, o assassino que tenta tirar a vida da jovem várias vezes... e a final girl.
O truque, ou melhor, o que mais chama a atenção na franquia, é que há muito sangue e muita devoção à deformidade do corpo quando ele é assassinado. A linha entre a morbidez e a decisão de desviar o olhar é tênue e nos convida a repensar quem decidimos apoiar quando vamos ao cinema para assistir a um filme, ou mesmo quando assistimos alguma coisa em casa. O que motivou esse amante dos efeitos práticos a não ter filtros? Foi o carinho pelo cinema alternativo? O que ele pensa que está fazendo? Devo ignorar meu lado mais crítico e aproveitar algo que não consigo entender? A direção do Leone é simplesmente horrível e nem consegue me provocar nojo. O erro é de quem? Das pessoas que assistem ao filme ou meu porque não consigo me conectar? Gostos são gostos, mas deveríamos ser mais cautelosos com aquilo que assistimos e exaltamos.
Escrito por JERÓNIMO CASCO
Publicado em 15 DE NOVEMBRO DE 2024, 17hs39 | UTC-GMT -3
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